
O par que arranjei para hoje serve para festejar o Dia do Livro Infantil.
São dois livros sobre ler, sobre livros e sobre o que podemos fazer com eles, através deles, por causa deles — por eles!
Como criar uma biblioteca é um título sem ponto de interrogação. Não é uma pergunta. É mais uma resposta ou uma interpelação: um convite à ação. Um três-em-um do como, para quê e porquê construir uma biblioteca.
Um rapaz caminha e tropeça num livro. Não encontra o livro, o livro encontra-o a ele.
É uma declaração de amor aos livros e como nos podem acompanhar na nossa história. E também um lembrete daquilo que os que juntamos podem ser para os outros.
Nas guardas iniciais deste Eu (Odeio) Adoro Livros vemos a menina, monocromática, centrada em vários gadgets eletrónicos; nas guardas finais, encontramos, em várias cores, uma devoradora de livros. Pelo meio, a recusa, o espanto e a surpresa, o encanto e o encantamento — até que ler se começa a parecer com respirar. A menina que no início do livro não gosta de ler, acaba (ou começa) a devorar histórias, porque "tropeça" no livro certo.
Em ambas as histórias, o livro ligado a um impulso vital.
Nenhuma destas duas personagens está à espera que o livro a apanhe. De uma maneira ou de outra estão noutra. Mas as duas estão disponíveis. De forma mais ou menos casual ou imposta, literal ou figurativa, tropeçam num livro. No livro certo.
Amanhã festejamos o dia do livro infantil e devemos, mais que nunca, concentrar-nos em resgatar os miúdos ao vício fácil, global e hipnotizante das "eletrónicas". Se há umas décadas atrás o ópio do povo era a TV, temos a infância contemporânea arrestada por uma droga dura que, ingénuos e enganados durante uns tempos, achámos que seria apenas um grande passo na evolução.
Pais e professores caímos nos encantos — e são muitos! — das possibilidades do digital, daquilo que viria a acrescentar, sem consciência do que isso iria afinal retirar às crianças.
Já escrevi várias vezes sobre as virtudes do livro e da leitura. Tenho separadores com dicas (tenho em falta as para a adolescência...) e a convicção cada vez mais forte da sua importância, pela minha experiência e daqueles que se cruzam comigo.
A leitura de um álbum ilustrado abre um mundo que vai muito para além da história. O mundo que se abre do silêncio profundo à volta do miúdo que já lê sozinho ou da entrada a pés juntos num espaço mágico comum, quando a leitura é partilhada.
O álbum ilustrado é, além de uma ida ao museu, uma ferramenta de educação incrível a nível pessoal, familiar e comunitário. Gera pensamento, reflexão, empatia, debate e sentido de pertença.
No cartaz comemorativo deste ano, da Catarina Sobral, vemos vários meninos a ler junto a uma árvore. Todos eles já encontraram o seu livro-certo. São eles os frutos da árvore. Os miúdos, não os livros. Os livros são "só" a água que alimenta a árvore. E que belíssima água.
O livro certo faz toda a diferença e às vezes não se encontra nem à primeira nem à segunda. Por isso amanhã passem numa livraria ou puxem um livro da estante — ou peçam-me ajuda! — mas partilhem um livro com os vossos miúdos. E boa viagem.
.........................................................................
Pato Lógico, 2024
Inês Fonseca Santos texto, André Letria ilustrações
isbn 9789895354689
Sem comentários :
Enviar um comentário