O T fez 18.
Não sinto que o tempo tenha passado a correr, como tanta gente diz.
Lembro-me de cada fase: de cada alegria e de cada preocupação, de cada susto e de cada surpresa.
O tempo leva o seu tempo.
E ter mais um miúdo com 18 não é mais do mesmo. Ou é. Mas tão diferente.
O T veio depois do B. Aconteceu mais depressa do que eu imaginava e tão diferente do que eu imaginava.
O perfil nas ecografias era igual ao do B, o que me fez prever um daqueles pares de irmãos tirados da mesma forma.
Ups. Será difícil encontrar semelhanças entre os dois. Físicas e não só.
O que nos torna humanos é a língua, defende este livro.
E o que nos torna únicos é a nossa própria linguagem: escrita ou falada, desenhada ou dançada.
E o T criou a sua: com o seu tom de pele, a sua maneira de pensar, de brincar, de cantar, de se mexer, — tudo tão diferente do B. O T trocou-me-nos as voltas. Fez-me ter de aprender uma língua nova, que julgava já conhecer por ter sido mãe antes dele chegar.
Hoje faz música — e mil outras coisas.
Continua irrequieto, sendo calmo, alegre, sendo ponderado.
Tem mil amigos, mas precisa do seu tempo e do seu espaço sozinho.
As bochechas míticas desapareceram há muito, mas a sua capacidade de ler os outros faz-me ter a certeza de que é um poliglota.
O T chegou pronto para ocupar o seu espaço. E nem quando ficou esmigalhado como filho-do-meio deu parte fraca. Sabe encaixar-se e encaixar os outros.
Quando um destes dias lhe disse que tinha de aproveitar melhor as vantagens de ser filho do meio, já que dizem que a maior parte das coisas são desvantagens, comentou com o ar mais ligeiro deste mundo: "Nunca percebi isso que dizem. Eu não encontro desvantagem nenhuma."
Há pessoas assim, sempre de bem com a vida. E a vida sempre de bem com elas.
Que bom é ser mãe de uma delas.
Parabéns, T.
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Fábula, 2024
Victor D.O. Santos texto, Anna Forlati ilustração
isbn 9789897878756
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