No fim de semana fui com os meus rapazes ao novo CAM. Passeámos no Jardim, por baixo da pala e vimos as exposições. Já lá tinha estado com os meus alunos a fazer a mesma coisa — e a desenhar.
Para festejar este novo-velho lugar na cidade, ponho aqui este primeiro livro, da coleção "Heroínas das Artes", sobre uma das pessoas que ajudou a fazer da Gulbenkian aquilo que é hoje.
Não sei se toda a gente que vive em Lisboa valoriza de facto a enorme relíquia que a Fundação é nesta cidade.
Andei muitas vezes por lá a passear os miúdos, bem pequeninos, no carrinho, para verem as folhas a mexerem com o vento e, mais tarde, para correrem atrás dos patos.
Continuámos com eles a ir ver exposições e a levá-los aos Concertos comentados ou ao Cinema com orquestra. No fundo continuei a fazer o que os meus pais já faziam comigo e que ficou de semente, quando comecei a frequentar sozinha a Fundação, enquanto estudante. Espero estar também a plantar essas sementes nos meus filhos e nos meus alunos.
Intrinsecamente ligada a esta casa, Madalena Perdigão foi uma mulher irrequieta que meteu as mãos na massa e que, com a sua inteligência, fulgor e coragem seguiu o seu caminho e arrastou com ela quem a quis seguir.
Se a Gulbenkian é hoje o que é, é em grande parte por sua causa e porque fez dela uma causa.
Esta história é sobre as duas, porque são indissociáveis.
E, porque nasceu nos anos 20 do século XX, em Portugal, esta é também uma história que fala de outras conquistas, no país — pelo país — no feminino, nas artes, na educação.
Madalena escolheu estudar Matemática e Piano. Uma dupla licenciatura muito contemporânea.
Catarina Sobral apresenta-nos esta heroína cá de casa como alguém visionário e corajoso. Claramente à frente do seu tempo, diferente do seu tempo, construiu um futuro para si, para esta casa e, consequentemente para esta cidade.
E cidade não é só, nem principalmente, um povoação que corresponde a uma categoria administrativa: é claro um conjunto de ruas, avenidas, casas, praças, transportes, mas também de árvores, pessoas, cultura, festas — e patos.
Alguém dizia a propósito desta intervenção na Gulbenkian, que há coisas que deviam ficar como estavam. Que até podia vir a ficar bem, mas que lhe custava que mexessem na Gulbenkian, na "sua" Gulbenkian.
Se ler esta história, vai ter a certeza de que a Fundação na verdade nunca parou.
Que a inquietude da Madalena está nos genes da Gulbenkian e que aquilo que na verdade nos encanta neste lugar (que consideramos "nosso") é exatamente o movimento que é e que cria.
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Tinta da china e CAM, 2024
Catarina Sobral
isbn 9789896718244
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