Há dias em que venho aqui procurar um livro para enviar um link a alguém e não o encontro. Nunca escrevi sobre ele.
Fico sempre surpreendida por perceber que há livros incontornáveis que não figuram nesta prateleira, de modo que, nesse mesmo dia, o venho aqui pousar.
Acabei de fazer (quase) meia centena de anos nesta Terra, por isso até vem mesmo a calhar.
É um daqueles livros que gosto de oferecer a um bebé acabado de chegar à vida.
É um clássico contemporâneo, bonito para dar ao bebé e aos pais, para passar também a fazer parte da família.
É sempre muito bom regressar a ele.
Eu espero... é um livro-fio que se desenrola para contar uma vida. Com tudo o que de feliz e triste cada vida contém.
Não é uma história cor-de-rosa sobre as bênçãos que a vida nos reserva. É uma história vermelha-de-sangue realista sem ser pessimista, crua sem ser cruel, acutilante sem ser mordaz.
A vida passa por nós e nós por ela. Umas vezes desenrolamos o fio, outras andamos enrolados nele.
Umas vezes fazemos laços bonitos e damos nós importantes, outras sentimo-nos asfixiados com o fio à volta do pescoço ou enrolado nos pés.
Eu espero (reticências) todos os dias. Não como quem desiste, mas na espera ativa de que fala Simone Weil — que tão sabiamente distingue procura de espera e vontade de desejo.
Um livro que mostra o ciclo da vida (sem amaciador incluído), na simplicidade da linha de Bloch que nos mostra que, para cada um de nós, não há ciclo nenhum, antes um fio com princípio (determinado), meio (a determinar) e fim (indeterminado), mas que vale mesmo a pena tricotar.
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Bruaá, 2005
Davide Cali texto, Serge Bloch ilustrações
isbn 9789898166012
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