O sentido da cabana

Podia ser um livro de arquitetura sobre habitação privada ou um daqueles elegantes catálogos sobre as 100 melhores casas do século.

Bachelard dizia que a casa é o nosso espaço no mundo, o nosso "universo primário", um cosmos. Carson parte desse microcosmos para o mundo, desse interior íntimo para o exterior múltiplo.

Casa são muitas casas, mas também as pessoas que as habitam. Ou talvez, principalmente as pessoas que as habitam.

Não sei se é uma uma história, sequer se é "sobre" alguma coisa. Mas é um livro com sede de viagem, de conhecer e de saber, de aprender e compreender, de alargar horizontes. Com ponto e contraponto, para fazer pensar.

Casa é um livro onde a constatação da diversidade da humanidade abre a porta à constatação da sua riqueza e, consequentemente, à capacidade de reconhecer o outro como alguém interessantemente diferente. Há uma vontade sair de si para encontrar o outro, do exterior para o interior, em busca de encontro.

E, por isso, podemos apreciar os incríveis desenhos, os detalhes a pintura —devemos, até! — mas o que é verdadeiramente bonito é percurso que podemos fazer entre o exterior da casa da ruiva Carson até ao seu interior, altura em que somos então convidados em fazer também a nossa própria viagem.

Carson Ellis vive numa quinta nos EUA. Tem um marido, dois filhos, alguns animais — entre eles lamas. Imagino-a nesse lugar recolhido do mundo a querer ligar-se ao mundo.

Começa por ser uma lista de casas onde a fantasia e a realidade se alternam, até que chegamos a uma pergunta e outra e outra. Depois a lista torna-se mais concreta, mais particular. E assistimos então a uma série de retratos que nos levam ao interior das casas e, finalmente, ao interior da casa de "uma artista" onde a podemos espreitar desenhando a sua própria casa.

E depois das apresentações, podemos então começar a nossa história, partindo na nossa casa.

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Casa

Orfeu Negro, 2024

Carson Ellis

isbn 9799899071780