Ninguém gosta de falhar.
Mas a realidade é que o erro fez e faz avançar o mundo.
Deparei-me com este livro numa ida a uma das livrarias do bairro (incrivelmente temos 9 livrarias à nossa volta!) e pareceu-me que o R iria gostar dele — e eu também. Afinal, um bom álbum ilustrado não é só para crianças.
Logo o título parece ter um erro: como é estranha a palavra benditos. Fiquei a saber coisas tão diversas como porque é que uma pilha se chama pilha, como viemos a ter a sorte de beber café e de como o velcro é afinal apenas uma imitação da natureza.
O R continua a ler histórias, com a BD como estilo de eleição, mas gosta muito de livros com factos e História. E este acaba por ser uma mistura dos dois, pois cada "erro" relatado é mesmo uma história de encantar.
É inacreditável que uma das descobertas mais importantes de toda a História (a penicilina) tenha ocorrido, por acaso e como consequência de um esquecimento, depois de umas férias que Fleming decidiu tirar, na sequência de demasiadas experiências falhadas, enquanto tentava encontrar uma substância capaz de destruir bactérias.
Além do relato do enquadramento histórico do erro e de um pequeno apontamento biográfico dos intervenientes, este conjunto de pequenas histórias, certeiramente ilustradas para este tipo de livro, deixa, no final da leitura, grandes lições que não são nem de física, nem química, nem de gastronomia.
O que fica a pairar naquela espécie de anel à volta da cabeça que nos envolve o pensamento depois de lermos um livro, são três lições: uma de perseverança, outra de curiosidade infinita e finalmente a da necessidade de dar tempo ao tempo, de olhar para o lado, de descansar, da distração — e os frutos que esta combinação explosiva tantas vezes deu e poderá dar.
Por isso, este é um excelente livro para miúdos curiosos, sim, mas também para pré-adolescentes do tipo
a) que se encapsula no medo de falhar e bloqueia;
b) que mergulha numa dolente preguiça do tanto-faz e nada faz.
Depois disto, eu, que não gosto de champanhe, vou passar a apreciar mais a bebida inventada pelo monge Pierre Pérignon que terá gritado de felicidade ao beber a sua nova bebida:
"Venham depressa! Estou a beber as estrelas!"
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Soledad Romero Mariño texto, Montse Galbany ilustrações
Minotauro, 2023
isbn 9789899124400
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