Haja liberdade!

Há quem faça pinturas que gostamos de pendurar nas paredes.

Há quem escreva histórias que gostamos de guardar nas estantes.

E há quem nos ofereça assim pinturas em histórias, histórias em pinturas, que gostamos de ver, ler ou ouvir.

Haja sorte.

Há quem queira liberdade para contar histórias.

E quem queira liberdade para as não contar mais.

Haja liberdade.

Este simpático personagem está cansado da vida agitada que viveu no meio de tantas histórias. Precisa de reforma, de descanso. Dum belo dicionário "um sítio sossegado e com muitas páginas", onde passar os seus dias calmos "escondido entre duas palavras." 

Haja descanso.

Mas aqui estamos nós, a passar estas páginas-pinturas, estas páginas-histórias, sôfregos por mais uma aventura, exigentes, curiosos, sem deixar o homem em paz.

E este quer mesmo trocar de papel: em vez de personagem, quer ser leitor; em vez de contar uma história, quer ouvi-la; em vez de ser espreitado, quer espreitar.

Haja direitos.

Quantas vezes contámos a mesma história noites seguidas? Quantas vezes tentámos, sem sucesso, aldrabar uma ou duas páginas, porque éramos nós quem estávamos a adormecer, com tudo ainda por fazer? Demos conta da última vez que lhes lemos uma história?

Haja nostalgia.

Ao longo desta não-história, (porque, ao longo das páginas, este anfitrião-metapersonagem se recusa a contar uma), estão, na verdade, mil histórias por contar — para contar. Nos pormenores de cada desenho, nas subtilizas de cada composição, mas também nas referências a outras histórias e personagens, deixadas cair como as migalhas de João e Maria: quem quiser que as apanhe e descubra o caminho para uma bela aventura.

Haja aventura.

Um prodígio de desenho (e de desenho de interiores!), este livro (que é uma graça) é também uma história sobre a liberdade de escolha — e é por isso mesmo que o escolhi para festejar, já hoje, a Liberdade e, já atrasada, os Livros.

Haja alegria!

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Haja paciência

Orfeu mini, 2023

Gonçalo Viana

isbn 9789899071605