Tivemos uns peixinhos e uma tartaruga. Imagino que sejam mais fáceis de perder do que um cão ou um gato. A escala, a interação e a temperatura do sangue têm a sua influência, parece-me.
Um dos peixes estava em agonia há semanas e levámo-lo ao rio. Os miúdos eram bastante pequenos e história foi mais ou menos fácil.
A tartaruga fugiu, um dia, na quinta, onde a tínhamos posto a tomar banhos de sol e nunca mais a voltámos a ver. Procurámos por todo o lado e vivemos a sensação terrível da perda sem corpo, sem desfecho. Isto passou-se vários anos depois do peixe do rio.
Durante uma semana o R não conseguiu dormir.
O livro desta a semana volta a ter como protagonista um cão e está rodeado de silêncio e de sensações que passam quase sem palavras.
Os seus aparentes rabiscos são de uma incrível síntese e beleza. A composição da página e da dupla-página é uma lição de ilustração, design, equilíbrio, estética.
Sorte, termos mais um dos seus livros editado em português — porque este seu livro, ao contrário dos outros, tem (poucas) palavras.
Embora às vezes não sejam preciso muitas.
Percebemos a dor, a doença, a perda, a saudade. Porque estão nomeadas — e por vezes temos de as nomear para as expiar — mas também porque estão desenhadas.
Álbum de luto, a branco e preto, pintalgado do clássico azul-suzy-lee, para nos dar a ver o rio, a montanha e o mar (elementos e personagens) e funcionar como um fôlego, um murmúrio para voltar à tona, depois da perda.
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Esquimó, 2023
Suzy Lee
isbn 9789899090286
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