Roubo o título duma edição da revista Granta de seu nome Falhar melhor.
Lembro-me várias vezes dessa expressão. De como é mesmo importante falhar, mas falhar cada vez melhor, para aprendermos qualquer coisa no processo.
Lembro-me várias vezes dessa expressão. De como é mesmo importante falhar, mas falhar cada vez melhor, para aprendermos qualquer coisa no processo.
Com o chorar é parecido.
Não há nada que uma boa choradeira não resolva, diz-se. Verdade. Mas a sensação de paz (até fisicamente) incrível que se sente depois de um vale de lágrimas (endorfinas e tal), não dura muito se não aprendermos a chorar melhor. Quer dizer, se não mudarmos nada do que pudermos mudar.
Se choras como uma fonte chega-nos neste tempo do Silêncio. Chega-nos na semana em que a guerra aqui mesmo ao lado já dura há tanto tempo que a terra já deu uma volta inteira ao sol; na semana em que pararam de procurar sobreviventes na Turquia; na semana em que a escalada de violência em Israel e na Palestina soa a um dejà vu em loop; na semana em que mais uma praia do mediterrâneo é cenário de horror em vez de paraíso. E só dá vontade de chorar.
Mas não vale a pena chorar sobre leite derramado, sendo que tudo isto é de fazer chorar as pedras da calçada.
O mundo, esse, continua a rodar, sempre. Mas, sim, depois de chorar é preciso atuar — e isso é que será, talvez, chorar melhor.
Por isso, o bom humor com que Noemi Viola tenta acalmar a minhoca chorona protagonista deste livro — que podemos ser nós, os leitores ou os ouvintes — dá-nos alento para continuar a fazer de cada dia, à nossa volta, o melhor possível.
Na verdade, esta história — se é que lhe podemos chamar história — é uma conversa típica de alguém que tenta convencer outro alguém a não chorar.
Já todos tivemos de ajudar alguém a parar de chorar e já todos, por alguma vez, ficámos sem argumentos. Mas, agora estamos safos: temos um compêndio para lágrimas — emocionais, reflexivas e basais.
Noemi, ardilosamente, vai reagindo aos beicinhos do chorão, através de distrações e de argumentos que vão dos mais ou menos válidos aos mais estapafúrdios, mas sempre muito úteis.
Num tempo em que surgem várias tentativas mais ou menos literárias de abordar emoções com os mais pequenos, estes magníficos desenhos lavados em lágrimas, são uma lufada de ar fresco.
Porque o humor é muitas vezes a resposta para questões difíceis.
É de chorar por mais.
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Planeta Tangerina, 2023
Noemi Vola
isbn 9789899061149
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