Passear no campo no meio de uma tempestade, rejuvenesce.
O barulho do vento nas árvores, as folhas de todas as cores, brilhantes de chuva debaixo das botas, o ar e a água contra a cara.
As árvores abanam muito e fazem muito barulho e já sei os nomes de muitas. Também já estou quase curada do trauma de me terem mandado para o lixo o herbário que estava a fazer com os miúdos, quando eram bem pequenos, de todas as árvores da quinta. Estou pronta para começar outro.
Os miúdos crescem e as árvores também. O que ao fundo parecia um conjunto de paus de vassoura espetados na terra é hoje um bosque frondoso com uma luz inigualável.
A árvore: tronco, raízes, folhas, frutos.
Ao fechar o ano, que é o mesmo que dizer ao abrir um outro novinho em folha, deixo aqui na prateleira um dos últimos livros do ano: Procuras uma árvore?
Folhas de livros e folhas de árvores combinam muito bem. Porque ambos contam histórias. Ambos carregam vida e apontam para outros lugares e têm raízes fortes.
De um convite da Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas ao Museu da Paisagem nasce este filho, ou neto, do livro A árvore em Portugal, pela mão da Planeta Tangerina. O livro homenageado é o famoso guia dos anos 60 e tem como autores Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles.
Quando o pai lhe perguntou "Mas que raio de escritor é este que não sabe o nome das árvores?" o J ficou a saber que o pai o tinha reconhecido como escritor. E de facto, saber o nome das árvores, parece conferir uma espécie de poder sobre o mundo, uma clareza, uma sabedoria, uma história.
Antes do B nascer, plantámos uma árvore. Hoje parece centenária. Também ela atingiu a maioridade.
Em Procuras uma árvore? a procura de um sobreiro desaparecido faz-se de mansinho, pelos sentidos — forma e textura—, para tentar responder à primeira pergunta do livro-pai, ou avô: "O que é uma árvore?"
Depois vêm as fichas de cada árvore, que fazem deste objeto um guia, convites para as desenhar, que fazem deste livro um caderno de atividades e, finalmente, o desafio, que faz deste compêndio poesia: "Vamos plantar um sobreiro?"
Vamos!
Sombra. Luz. Fotografar. Pássaros. Som. Encostar. Bichos. Trepar. Fruto. Pendurar. Pendurar uma rede. Balouçar. Fresco. Desenhar. Ler. Rodear. Sonhar. Fazer um piquenique. Namorar.
Coisas tão boas.
Um bom ano de coisas boas e bons começos!
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Planeta Tangerina, 2022
João Gomes de Abreu, Maria Manuel Pedrosa, texto Madalena Matoso, ilustrações
isbn 9789895382002
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