O palhaço verde é um dos livros a minha infância.
Em 1984 eu tinha 9 anos e, na altura, não fazia ideia de quem era a mestre Maria Keil, mas já havia qualquer coisa de muitíssimo atraente naquelas ilustrações. O nome do ilustrador ainda não aparecia na capa.
Não tinha grande memória da história. Apenas uma ideia difusa, meio poética, confortável e desconfortável, ao mesmo tempo, como são as memórias de infância.
Voltei a ler O palhaço, com receio de quebrar a regra de não se dever regressar ao lugar onde fomos felizes. Mas o palhaço envelheceu bem.
Tem um tempo de outro tempo, lugares de outro tempo, personagens de outro tempo, palavras de outro tempo, é certo. Mas a magia está lá, nas subtilezas do não dito, na delicadeza do conjunto, na história triste e feliz, ao mesmo tempo, como são as boas histórias — e os palhaços.
Com o seu traço inconfundível, as ilustrações realistas são de uma incrível modernidade: a mistura de diferentes técnicas e planos, o não seguir o texto à risca, o não revelar tudo deixando muito espaço em branco para que possamos, nós próprios, projetar o resto das cenas.
A última edição é já de 2009, por isso o melhor é apanharem este vintage antes que esgote. Para um dia algum dos vossos descendentes poder contar esta história aos meninos de 2084.
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Livros Horizonte, 2009 (1ª edição 1984)
Matilde Rosa Araújo texto, Maria Keil ilustrações
isbn 9789722408851
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