Crescer é também perguntar "e se".
Os pais dizem e avisam, aconselham e indicam. E depois os filhos escolhem fazer igual, parecido ou mesmo diferente.
Quando são pequeninos, a coisa é mais ou menos controlada, porque andam por ali, à roda das nossas saias.
A seguir vão para a escola, o universo alarga e têm mais ideias: próprias e alheias.
Depois crescem ainda mais e o limite ultrapassa as paredes da casa, os muros da escola e salta para o mundo.
E é uma graça quando podemos observar esses momentos de aventura, de criatividade, de teste dos limites, de decisão sobre o futuro — mais próximo ou mais longínquo. Quando a coragem de fazer diferente leva a outros lugares. Mais pequeninos ou já maiores.
Em mais um ensaio sobre a infância, Chris Haughton dá-nos a ver estes três irmãos que, hesitantes, convencendo-se de que não há perigo nenhum, de que nem sequer estão realmente a desobedecer à mãe, quase são engolidos por tigres ameaçadores. A verdade é que, no caminho, engolem também umas mangas bem saborosas.
E se ninguém os parar, a seguir vêm já as bananas. Tigres ou não.
Porque é só perguntando e ponderando num "e se", depois de um hesitante "talvez", que se cresce em direção a um mundo diferente e, potencialmente, melhor. Se conseguirem não ser devorados, entretanto. Por tigres, pelo medo ou por uma terrível asneira.
Claramente uma fábula para os mais pequenos dos mais pequenos, na linha do resto da coleção, mas também na linha dos clássicos (quem não se lembra logo da mãe cabra a sair de casa deixando para trás os seus sete cabritinhos?), a maravilha destes também pequenos livros, é que permitem múltiplas leituras para além da moral clara, mas, em Haughton, posta em causa por um intenso humor de sabor tutti frutti.
Costumava oferecer um destes livros do CH a cada sobrinho que ia nascendo dos meus cunhados mais novos. Mas CH tem um ritmo ainda mais acelerado, de modo que vamos no 4º sobrinho e no 6º livro. Hum...
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E se...Orfeu Negro, 2023
Chris Haughton
isbn 9789899071384
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