O R fez 12 anos e tenho-me lembrado muito do texto que conta como Jesus se perdeu dos pais, no templo, em Jerusalém. Jesus teria 12 anos.
A resposta que dá aos pais quando é "encontrado" sempre me desconcertou pela sua dureza. Mas é também um marco importante — não ainda numa mudança radical na sua vida —, mas no lançamento de uma primeira pedra na Sua construção.
A resposta que dá aos pais quando é "encontrado" sempre me desconcertou pela sua dureza. Mas é também um marco importante — não ainda numa mudança radical na sua vida —, mas no lançamento de uma primeira pedra na Sua construção.
O R, embora continue com cara de miúdo, já rebola os olhos e precisa claramente do seu espaço, do seu tempo. Não nos pergunta "Porque me procuravas?", mas sei que às vezes é exatamente isso que lhe apetece dizer.
Continua a gostar de ler. BD é a eleição, sempre, e, depois de várias voltas às coleções clássicas cá de casa, encontrou o Corto Maltese, depois de um amigo lhe ter oferecido um e de saber que havia mais uns cá em casa. Trocou dois clássicos que já tinha por mais um da coleção do marinheiro e vive agora num mundo a preto e branco, este meu daltónico de olhos de água.
Mesmo assim, continua a aceitar os livros que lhe deixo na mesa de cabeceira e este aconselhou-mo, depois de o acabar de ler.
Hachiko existiu de facto e isso é uma coisa que agrada ao R. Gosta de estar a par das notícias, defendendo-se de algumas, perguntando sobre outras, começando a opinar sobre outras —já!
Li-o com muito prazer, neste Advento, [latim adventus, -us, chegada, vinda, aproximação], o tempo antes, o tempo da espera. Levou-me de volta ao Japão, de que todos os dias tenho saudades. Trouxe-me de volta ao presente, ao tempo que preciso de aprender a fazer demorar e não sempre fazer render.
Hachiko, o seu dono, a sua história aconteceram bem antes de eu lá ter estado há 22 anos, mas ainda assim, trouxe-me de volta os cheiros, as cores, os sabores, o ritmo, os sons, o lugar Ni-Hon — a origem do sol.
Hachiko ia esperar o seu dono todos os dias às estação, ao comboio, sempre à mesma hora. E, quando o dono morreu, continuou à sua espera, até morrer.
Não tenho coragem de lhe propor o filme de Hollywood sobre esta história verídica (que vai achar a coisa mais pirosa do mundo), mas o Hachiko Monogatari hei-de sugerir ao R, num destes dias de férias chuvosos que se aproximam.
Sei que dentro da sua tipologia de adolescência, das que gostam do que é diferente, vai alinhar no programa meio fora.
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Lluis Prats texto, Zuzanna Célej ilustrações
Fábula, 2022
isbn 9789896235888
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