Dito isto, hoje quero mesmo pôr aqui este livro, acabadinho de sair. Perdi a vergonha, talvez; ganho outras coisas, com certeza.
E, num tempo em que, mais do que nunca, faz diferença fazer ou não fazer, dizer ou não dizer, mudar ou não mudar, atuar ou não atuar — e a nuance é hoje tão rara — pareceu-me demasiado certeiro para lhe passar ao lado.
Faz diferença é um livro muito jacíntico. Quem o conhece concorda. Os filhos, mais do que ninguém. Uma "piada à pai Jacinto" é uma tirada frequente por aqui, porque as piadas também o são. E normalmente em torno das palavras.
Brinca com crianças com o mesmo prazer puro que elas têm ao brincar, não exatamente de igual para igual — porque consegue sempre manter o respeito — mas com o mesmo tipo de disponibilidade física e mental. Com tempo.
Tem por hábito olhar as coisas sempre como da primeira vez, pelo que lhe é fácil o espanto. E porque a memória para o trivial é nula, maravilha-se com pequenas coisas a cada esquina, a cada segundo, uma e outra vez.
O Jacinto escreve: romances, peças de teatro, canções, crónicas, contos. E, se o seu trabalho são as palavras, a brincadeira também é sempre da matéria das palavras. Gosta de as torcer, distorcer e contorcer, até ficarem estilhaçadas em mil cristais de significados, sentidos e símbolos.
Não escreveu este livro para crianças. Escreveu-o porque sabe ser criança.
As ilustrações também brincalhonas de Alice Piaggio sublinham o levar a sério da brincadeira, no seu modo realista e surrealista, ao mesmo tempo, deixando espaço suficiente para o sonho e para a vida.
Este Faz diferença não é um romance, nem uma peça de teatro, nem uma canção, nem uma crónica, nem um conto. É um bloco de notas de alguém que vive das palavras e que todos os dias trabalha para as dar ao mundo. Que olha para elas com óculos que ampliam nuances e que as revela através de um prisma de mil faces, deixando um sorriso no canto da boca de quem as lê.
Na minha deixa.
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Bruaá, 2022
Jacinto Lucas Pires texto, Alice Piaggio ilustração
isbn 9789898166517
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