E a guerra continua.
Pudesse Putin ler um dos mais belos livros do ano e talvez se compadecesse com tanto sofrimento de que é a primeira, talvez única, causa.
O duelo, de Inês Viegas Oliveira, uma carta ilustrada, um poema gráfico, um romance russo, o conto de um lugar (demasiado) comum, retrata a história de tantas quezílias, contendas, altercações, conflitos, desentendimentos, virar de costas. As vezes todas em que, em pequenos ou adultos, nos esquecemos do porquê de estarmos zangados.
No centro da dupla página, ali mesmo, onde a linha cose as folhas, uma figura aparece; mas anuncia-se plural e afinal são duas pessoas. Que se afastam, viram costas. E andam.
O clássico duelo vai começar. E contam-se os passos. Mas há quem não se vire para disparar, há quem continue, abra caminho, e, no caminhar se esqueça. Ou antes, se lembre, ou reconheça, — ao passar pelo mundo — do que é importante.
O caminho pelo mundo revela-lhe e nos paisagens magníficas, de diferentes escalas, cores, perspetivas; cenários cheios de gente e ou carregados de solidão. Vai conversando consigo próprio, como tantas vezes ensaiamos antes de escrever uma carta ou um postal.
Inês caminha para fora do gelo, por cidades e montanhas, pelo céu e pela flor, pelo mar e pelo meio, pela festa e negritude da vida.
E que sorte temos, em poder ir com ela.
Não sei se iria tão longe e dizer que o nosso herói sente saudades do seu arquirrival, quando chegamos à última página. Que está em paz, tenho a certeza.
Porque afinal, esta não é a história de um duelo entre duas pessoas. É antes o murmurar de um duelo interior de alguém que, por distração ou intuição, se transforma e escolhe o caminho da paz.
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Planeta Tangerina, 2022
Inês Viegas Oliveira
isbn 9789899061101
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