Uma história absurda que rima com o absurdo da História.
Não sei se é uma história sem redenção, se é hiper-realista ou fatalista. Mas parece-me uma história necessária.
É dos anos 70 do século passado, mas continua tão atual como se viesse no jornal de hoje.
Ninguém imaginava que pudesse acontecer e no entanto aconteceu — acontece ainda, e é cada vez pior.
Que pensar das cidades, praças, edifícios, monumentos destruídos da noite para o dia? Que pensar das famílias divididas e das viagens de cada um, para diferentes abismos, mas sempre abismos?
Que fazer às imagens de crianças sozinhas, num pranto, a andarem para a frente, em direção à fronteira? Que fazer às imagens de quase-mães a segurarem as barrigas saindo debaixo de escombros?
Onde ficam as histórias no meio do absurdo da História? Onde para a imaginação?
Para além do absurdo, esta história mostra também o ridículo da ambição humana pelo poder. E a dificuldade que temos em aprender com a História.
David McKee, que bem conhecemos do famoso elefante Elmer, larga aqui todas as cores do arco-íris a que sempre nos habituou.
A guerra é a preto e branco, não há lugar para cores.
Basta uma linha preta e uma série de magníficas repetições, ritmos, padrões e quebras para narrar, também visualmente, a pobreza, o sem sentido, o absurdo, o ridículo, a dor.
E, fatalmente, o livro começa como acaba.
Infelizmente o loop da história imita bem demais o loop da História.
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Nuvem de letras, 2016 (1ª edição 1972)
David McKee
isbn 9789896650606
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