Bem, há quase dois anos. Há dois anos estava eu no meu primeiro confinamento, um mês antes do resto do mundo, sem perceber que pedra me tinha caído em cima.
Também nesta história em capítulos (como já nos habituámos a receber de Jon Klassen), ou neste livro de (cinco) contos, não cai uma, mas duas pedras. E, para mais, há um alien destruidor. Pode sempre ser pior.
Entretanto, por baixo da chuva de pedras, três personagens tentam gerir a amizade, o espaço, os egos, os tempos e maneiras de ser diferentes.
O alien, como seu olho terrível, faz estragos; a pedra, com o seu peso, faz estragos; as palavras que os três amigos trocam (ou não trocam), magoam também.
Há uma espécie de dança entre a página da direita e a página da esquerda. Um vai e vem horizontal, entrecortado pelas verticais das pedras e as diagonais dos raios fatídicos do alien. Um movimento de aproximação e afastamento. Um muito oscilante preciso de ti, não preciso de ti.
Uma sucessão de quadros tragicómicos em que pouco se passa, realmente, mas o pouco que se passa é um acontecimento de grande densidade. Literalmente e figurativamente.
Como a maioria dos livros de Klassen, não é um livro feliz, mas é um livro cómico. Mais uma vez maravilhosamente ilustrado, com a sombria paleta de cores que já não estranha, mas custa a entranhar.
Sejamos tartaruga, cobra ou sei-lá-que-animal-é-este—toupeira?, o nonsense e as fintas à tragédia iminente desta historieta, fazem espelho com a realidade que vivemos todos os dias. O livro não se chama: Uma pedra caiu do céu, mas sim, Uma pedra cai do céu. porque sabemos que caiu outra e que podem cair mais.
E assustamo-nos e sorrimos com este desventuroso trio, como se não fossemos nós ali, aqui, a viver por capítulos, com pedras e aliens a fazerem-nos repensar e reposicionar na vida.
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Orfeu Negro, 2022
Jon Klassen
isbn 9789899071049
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