O tempo para trás, o tempo para a frente. E nós no meio, no presente que depressa se torna passado logo depois de ter sido futuro.
Umas vezes o tempo parece cíclico, outras temos a certeza de que não volta para trás.
No postal de Boas Festas que tenho montado com as fotografias do ano desde que fui mãe pela primeira vez, há 17 anos, tenho um grande prazer em passar o ano em revista.
É muito bom ver, ver mesmo as imagens, de tudo o que passámos de bom — porque nunca fotografo as tristezas, as derrotas, os medos, as frustrações, as deceções, os falhanços, as asneiras que também existiram, existem sempre, em cada ano.
Paralelamente às fotografias do ano que passou, também andámos a vasculhar as fotografias impressas nas gavetas das cómodas da quinta, a perguntarmo-nos quanto tempo teria de passar até que as nossas roupas e cabelos se tornassem tão risíveis quanto as permanentes dos anos 80 e as combinações arriscadas dos anos 90.
O passado já foi futuro, sim, e o futuro será passado daqui a uns segundos.
E é por isso que, em tempos de balanço, mais do que tomar grandes decisões, devemos fazer pequenas perguntas que são, no fundo, as grandes perguntas.
Este "era uma vez" permanente em que vivemos — porque todos temos a sorte de ter uma história e de fazer parte de uma enorme História — lembra-nos (ou devia lembrar-nos!...) a toda a hora, desse privilégio.
Muitas vezes não temos resposta para as perguntas, e, muitas outras, as respostas não estão nas nossas mãos. Mas se nos atrevermos a olhar para trás e ver, e a olhar para a frente e perguntar — como neste lindíssimo Era uma vez (e muitas outras serão), em que nos aproximamos e afastamos do tempo-espaço através da dimensão das folhas, no meio encontramos a oportunidade de desejar.
E sem desejo, sem sonho, é bastante indiferente estar no passado ou no futuro.
Ontem lia de que não devíamos continuar a perguntar às crianças o que querem ser quando forem grandes, mas antes o que querem fazer quando forem grandes (era em inglês e julgo eu em português isto funcionaria melhor ao contrário...) porque
1) isso os faz definirem-se em termos de que profissão querem ter em vez de que tipo de pessoa querem ser e também porque 2) perpetua o mito de que apenas poderão ter uma carreira.
Por isso, mesmo continuando com dificuldades em programar, organizar e prever, vamos tentar garantir que, neste ano novo, não deixamos de perguntar. E mesmo que muitas vezes não encontremos respostas, que pelo menos continuemos a desejar e sonhar.
Um bom ano para todos!
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Planeta Tangerina, 2021
Johanna Schaible
isbn 9789898145680
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