Não sou de acumular. Aliás, dos 4Rs, o mais difícil para mim é mesmo o reutilizar — bem, e o reparar, mas para isso tenho a minha super-mãe! A minha tendência, para lá do passa-para-baixo entre os três irmãos, é mesmo passar ao próximo e não ao mesmo.
Tenho sempre a mala do carro cheia de sacos de coisas para dar. Do que tenho, gosto de selecionar para quem vai cada coisa. Há uns dias recebi umas botas magníficas que eram da minha cunhada, mas raramente quero mais coisas em casa ou no armário. E mantenho a regra do "entra um, sai outro" — que decorre da falta de espaço da outra casa, mas que mantenho nesta, por me parecer uma belíssima regra.
Mas é normal acumular, seja por razões afetivas, por preguiça, por dificuldade em escolher, por inércia, por vontade de ter. Enquanto seres humanos gostamos de ter — e gostamos que os nossos filhos tenham.
Emily Gravett cria mais uma fábula na floresta. Lá anda o texugo Pedro, que conhecemos do Arrumado, ainda de vassoura na mão. Desta vez, não é a fobia da arrumação que aqui se foca, mas a compulsão para tudo ter.
Mia e Artur são duas gralhas prestes a chocar os seus ovos. Constroem um ninho confortável e bonito, mas, rapidamente, as coisas descontrolam-se.
Os outros animais assistem perplexos à fobia de acumulação das duas aves, até que — catrapum.
Somos uns para os outros e os animais da floresta ajudam, quer ao resgate dos ovos, quer à reutilização de cada objeto que, em vez de conforto, só trouxe afinal asfixia ao ninho. Para cada um dos animais, trouxe grande felicidade.
Na verdade não precisamos de muito.
Com vários dias de computador arrestado para aulas online, aproveitei para, ainda assim, destralhar. E tão bem que sabe começar o ano num lugar novamente em branco, já cheio de histórias, mas com muito espaço para que aconteçam ainda mais!
E, não, não vem aí nenhum bebé.
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Emily Gravett
Livros Horizonte, 2021
isbn 9789722419758
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