Não é que o dia do aniversário me dê especialmente para grandes reflexões de vida, porque ando sempre a fazê-las. E este ano, com o turbilhão da montagem da exposição dA janela que se abriu em pleno dia 5, a só agora ando a apanhar as canas depois da festa, bem devagarinho e a pensar na vida.
Nesse mesmo dia recebi das mãos da Maria, o livro que ilustrou para a Máquina de Voar, ao mesmo tempo que montava esta janela comigo.
Há um ano não conhecia a Maria e isso é hoje muito estranho para mim. Chamei-a para trabalhar comigo, com o Miguel e com a Catarina — que já conhecia e com quem trabalhei várias vezes em teatro há mais anos do que aqueles que quero nomear. Acontece que quando lhes propus o nome da Maria eram ambos seus amigos e fiquei então com a certeza de estar a chamar a pessoa certa.
A simplicidade, a calma, a generosidade e o incrível profissionalismo da Maria, vieram dar a este projeto (nascido em ano tão difícil) uma frescura abrilhantada pela força da Catarina e a segurança do Miguel. E já que estou em maré de louvor e agradecimento, deixo aqui o nome de uma outra Catarina, também ela grande, que um dia me ligou do nada e me desafiou para fazer parte de um Lisboa 5L, que acabou por transformar o último ano e meio em muito mais do que o "ano da pandemia".
Com os livros sempre trabalhei muito sozinha. Na prateleira-de-baixo e no pacote™ sou eu e eu que fazemos tudo. De modo que, de repente, poder chamar assim pessoas valiosas e preciosas para pensar comigo foi passar de pequenina a muito grande.
Neste Tão pequenina, tão grande acompanhamos a grande vida de um pequeno bebé. Uma vida cheia que enche também tantas outras vidas que andam à sua volta.
Sei que as cores não saíram exatamente como a Maria esperava. Mas, bem, nenhum filho é exatamente como esperamos e é sempre tão extraordinário! De tesoura e pincel em punho, vejo a Maria grande transformar-se em Maria pequena enquanto constrói estas imagens vivas e novas, inocentes e vibrantes.
Engraçado, como as qualidades humanas de alguém se espelham tão exatamente na maneira como ilustra. Nunca tinha pensado nisso, mas pensando noutros casos que conheço (menos bem), acho que um diz-me como desenhas dir-te-ei quem és pode fazer muito sentido.
Alguns dos bebés de que falei aqui já começaram a nascer; outros começam a esticar a barriga das suas mães, mostrando o real impacto que vão ter no mundo.
Sou bem pequenina, mas que enorme me senti no meu dia de anos, com o colo da minha família, dos meus amigos — os de sempre — e os novos que a vida me dá a graça de receber assim, de graça.
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Máquina de voar, 2021
Maria João Lopes texto, Maria Remédio ilustrações
isbn 9789899970885
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