Esta semana soube que uma amiga minha vai ter o seu primeiro filho. No mesmo grupo de amigas, recebemos também a notícia de uma outra que se tonou tia avó esta semana. E que, ainda outra um pouco mais velha, já é avó. E vou ter mais uma sobrinha no verão — e mais dois emprestados!
A minha mãe diz sempre que "avó é ser mãe duas vezes". Ainda não sei, mas suspeito que será verdade. Porque me sinto um bocadinho mãe dos meus sobrinhos. Dos verdadeiros, mas também dos emprestados! E se isso já é tão forte, então que dizer de um filho de um filho?
Estranho sempre as mulheres que falam em ter bebés ou mais um bebé, com uma certa ingenuidade ou falta de visão, até. Um bebé é uma coisa passageira, muitíssimo passageira — embora por vezes dê noites nada passageiras... Quando se tem um filho, tem-se para sempre; quando se é mãe, é-se para sempre. E o tempo passa.
E isso é ao mesmo tempo maravilhoso e absolutamente assustador. Os filhos são pessoas, não são bebés que, oh-que-pena-crescem. Crescerem é incrível, de facto. Vermos diante dos nossos olhos uma pessoa a acontecer é estonteante. Ter a graça de — como quando eram muito pequeninos — poder experimentar tudo outra vez, através da sua experiência, é um verdadeiro privilégio que se vai prolongando durante a vida.
Mas, lá diz o povo: filhos criados, trabalhos dobrados!
Espero não dar demasiado trabalho à minha mãe. Pronto, dou...
Cada fase tem as suas coisas, boas e más — do lado dos pais e do lado dos filhos. E eu sou imensamente privilegiada de poder ser mãe e filha ao mesmo tempo.
Neste Um mãe é como uma casa, um título magnificamente arquitetónico, só se fala da mãe, mas o pai está em muitas páginas. Conta-se a história da mãe, mas a do pai anda colada à dela. Aparece, neste livro, sempre num papel secundário em relação à personagem central, mas funciona como suporte fundamental à estrela da ação.
Que bonito. Os pais são mesmo muitas vezes assim: mais silenciosos, mais na retaguarda, mas com uma presença forte e tenaz.
Os meus miúdos estão crescidos e esse acontecer como pessoa é muitas vezes, necessariamente, dar passos para longe de nós: pais e avós.
Espero também eu poder dar à minha mãe, nas diferentes fases da vida (minha e dela) o prazer de me ver acontecer como pessoa.
E que, quando chegar a hora certa, possa dar passos na direção inversa, para que, nessa altura, possa ser eu a segurá-la ao colo.
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Bruaá, 2021
Aurore Petit
isbn 9789898166470
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