A primeira vez que vi este Miséria fiquei a pensar na tradução do título — que se repete em todas as páginas. Está correta, claro, mas para mim, miséria está diretamente ligado a pobreza extrema e não tanto a desgraça ou infortúnio. E durante um tempo não peguei nele.
O livro tem, aliás um ar miserável, pelo que nunca me chamou pelas suas lindas ilustrações, capa de cores mate atraentes e formato generoso: não. O livrinho é mesmo miserável.
Editar um livro assim, que não chama a atenção e se vai perder nas prateleiras das livrarias é com certeza um suicídio financeiro. Mas tenho esperança que possa ser um festim editorial.
Vivemos tempos miseráveis que precisam de ânimo. Este é o livro certo.
Parece que digo uma coisa e o seu contrário, mas acompanhem-me, no folhear deste livrinho.
É um compêndio de desgraças que ocorrem especialmente na infância. É, portanto, um livro infantil. E é hilariante.
Mas as gargalhadas vão ser dos adultos; as crianças, que ainda por lá andam nesse glorioso país que é a infância, vão ficar às escuras numas tiradas e noutras farão um sorriso amarelo.
E quem nunca teve infância?
A primeira edição do livro é de 1964 e a autora é americana. Há, por isso, algumas referências culturais um pouco longínquas de nós, como a patinagem no gelo, os cartões de São Valentim que se enviam a todos os amigos ou os problemas com a neve. De resto, quem nunca passou por estas desgraças?
O livro é hilariante, repito. A infância nem sempre.
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