Livros como este trazem um brilho intenso de futuro de que tanto precisamos nesta altura.
Por cima de nós paira uma nuvem de incerteza. Se há uns meses o que se discutia era o futuro a médio prazo, na urgência das alterações climáticas e no drama da eutanásia, agora é o futuro próximo, do já amanhã, que aparece nublado, diariamente.
Não ver o futuro é uma das definições de depressão e, à medida que os dias de outono se tornam mais pequenos, esse futuro imediato torna-se de facto mais escuro — um verdadeiro retrato desta espécie de novo confinamento a que nos devemos votar.
Brilho intenso de futuro, dizia eu! De entre as várias novidades que chegaram nos últimos tempos, este foi o livro preferido do B, 16. E não me espanta. Pode parecer um livro para pequeninos. E é. E não é. E é também um jogo de poesia interativa.
Uma espécie de livro de poesia faça-você-mesmo. Um tríptico em que, a cada combinação que fazemos, nos chega uma rajada de fortíssima possibilidade.
Não é um cadáver nada esquisito mas, a cada virar de terço de página, criamos uma personagem inusitada, divertida, nonsense — ou talvez não.
Criei uma discussão de gramática entre os homens da casa ao falar deste Eu vou ser-que-como. Eu, que não sei nada de gramática, percebo bem que este vou ser não é igual a um quero ser ou a um gostava de ser. Neste vou está uma determinação fortíssima que não deixa margem para dúvidas, seja lá o que for que se lhe segue.
Pondero levar este livro para os pequenos-almoços às escuras e sonolentos das sete da manhã. Acredito piamente que, se lermos uma máxima destas no início de cada dia, a acompanhar a torrada, vamos encontrar forças extra para sair mascarados por aí.
A vida continua, estranha como nunca, mas continua viva e cheia de possibilidades, talvez apenas um pouco mais remotas e difíceis de vislumbrar. Mas elas estão lá. E estes versos simples mostram-nos exatamente isso:
que um querer forte e determinado guarda sempre em si uma certeza inabalável. Uma certeza tão grande ou tão pequena como uma folha esvoaçando sem parar, onda indomável ou um reflexo de sol.
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