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13.5.20

Por dentro e tão dentro

E de repente a casa é o mundo. A casa tornou-se escola, recreio, campo de futebol e de basquete, aula de música, cinema, restaurante, igreja, salão de jogos, discoteca. E, se a casa é a família, a família é o mundo.
Depois de um tempo em que andámos a chocar literalmente uns com os outros pela casa a toda a hora, mal podemos imaginar o que será voltarmos a estar tantas horas por dia sem nos vermos.

Somos uma família diferente de todas, como são todas as famílias. Talvez de fora nos dêem "um nome" e sejamos uma caricatura de nós próprios, como este ramalhete de Famílias destrambelhadas que aqui são retratadas neste livro de contos.
Temos feitios diferentes que se complementam, quando corre bem, e que chocam, quando corre mal. E tem sido bonito ver como se vai encontrando o equilíbrio, a tolerância e o prazer na repetição dos imensos rituais que criámos, sem os quais já não podemos passar.

Bem, há uns mais chatos que outros, estando no top-chatice o tratar da loiça em loop e das meias caprichosas que teimam, semanalmente, recusar o par. Mas há outros rituais que vamos acrescentando ou substituindo no quotidiano, como o jogo de família, a escolha da banda sonora para o jantar, a discoteca improvisada de sexta-feira à noite, o filme de sábado ou o documentário de domingo, o 7 minute workout para começar o dia, os livros que lemos juntos, as festas que inventamos, que têm dado brilho à vida cá dentro.

Lembro-me muitas vezes de várias famílias mais destrambelhadas (digo eu!) que a nossa e de como pode estar a ser realmente difícil este tempo que para nós tem sido trabalhoso, instável, desconcertante mas, essencialmente, muito bom. Das famílias que estão (mas realmente não estão) todo o dia juntas, mas que os pais estão ligados ao trabalho demasiadas horas por dia, daqueles que estão tão aflitos que não conseguem brincar, dos que não conseguem dar o mínimo aos seus filhos. Lembro-me muito dos filhos únicos e dos que vivem sozinhos e dos que não têm espaço para estar sozinhos.

Claudio Hochman e João Vaz de Carvalho retratam estas 12 famílias, da maneira inconfundível, como descrevem o que é Saudade em 7 dias. Um livro que pode ser um divertido-auto-irónico-anti-viral nesta altura em é difícil ter noção de nós próprios, estando por dentro e tão dentro. Afinal, que família é a nossa?
[Se quiserem conhecer estas Famílias destrambelhadas mais de perto, que hoje entram para o clã dos #livrosantivirus, venham aqui e usem o cupão "emcasa" para beneficiarem de 30% de desconto e oferta de portes. E também eu ganhar uma percentagem. Obrigada!]

Faz bem saber como andam os outros, aprender com os outros, partilhar o que de bom e mau se vai passando. Sempre aprendemos uns com os outros — a cultura também é isso — e estamos num momento em que temos muito para reaprender e aprender todos os dias.

Destrambelhados nuns dias, felizes noutros, a família é hoje mais que nunca o nosso lugar no mundo e temos de fazer dela a maravilhosa célula única e divisível, onde está registada, a fogo, a força do nosso ADN.
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Famílias destrambelhadas
Livros Horizonte, 2018
Claudio Hochman texto, João Vaz de Carvalho ilustrações
isbn 9789722418737

2 comentários:

  1. Já encomendei, com grande satisfação. A minha micro-manifestação de gratidão por tanta coisa maravilhosa que já descobri aqui no blogue :-)

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    1. Que querida, Titi! Espero que esteja tudo bem destrambelhado consigo:))

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