Uma série de close-ups contextualizam a cena, enquanto ouvimos música de fundo.
Um western clássico, parece: índio vs cowboy — o duelo vai começar, o filme vai começar.
Mas, quando a câmara se afasta, a música que adensa o suspense é interrompida como num disco riscado. Algo perturba a cena, o duelo entra em pausa.
E o filme para maiores de 12 transforma-se num filme para Todos.
A aparente simplicidade das ilustrações esconde mil pormenores que só se revelam à terceira ou quarta leitura. E que ilustrações!
A cena repete-se, ora por isto, ora por aquilo. O ridículo da situação de confronto nunca é totalmente desmontado, mas sim eternamente adiado.
É que o momento certo para o embate nunca parece chegar, de modo que, índio e cowboy, vão ligando e desligando o Botão Vermelho da Guerra, sem grande vontade (parece) de a levar a vias de facto.
Há tanta coisa que os interrompe (mais interessante ou mais barulhenta, mais amorosa ou mais perigosa), que o momento inevitável tem de ser adiado — até ao dia seguinte e mais além.
Este filme, — livro, desculpem — é um magnífico gag de duas condições humanas.
Podemos ser pessoas sérias e lê-lo como um western cómico sobre o absurdo da guerra ou como um filme psicológico, retrato da procrastinação humana.
Ou então podemos só passar as páginas e deixar que todos os filmes dos Johns Waynes e Fords que vimos em deliciosas&intermináveis tardes de sábado se sobreponham na nossa cabeça até que passem os créditos e o The End.
Ah, e as cenas dos próximos episódios! — que esperamos, incluam uma edição em português.
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Duelo al sol
Fulgencio Pimentel e Hijos, 2019
Manuel Marsol
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