Há livros que sei logo que quero pôr aqui e sobre os quais sei logo o que dizer.
Outros só sei que quero trazer à prateleira, mas tenho de ficar uns dias a pensar neles. Tenho de os reler várias vezes. Não porque sejam diíceis ou complexos. A verdade é que os livros sem palavras permitem tantas leituras que se transformam, na minha cabeça, em muitos livros diferentes.
Descobri este Grande livro na nossa visita anual à BD Amadora, uma das saídas clássicas do final de outubro que os miúdos apreciam cada vez mais. É mesmo uma banda-desenhada e é da Polvo, uma das editoras parceiras do pacote™ da prateleira-de-baixo, por isso, em novembro, parece-me que irei mandar alguns grandes livros no pacote™.
Já aqui confessei várias vezes a minha (quase) total ignorância em relação à BD e só este ano descobri o lápis azul.
Achei lindíssimo dar conta dele nas exposições, perceber o valor da sua invisibilidade (para as máquinas de fotocópias) e que muitos ilustradores o continuam a usar, mesmo que, tecnicamente, não seja já tão necessário.
Conhecia um outro livro sem palavras (a que também não resisti na feira) do mesmo autor, mas é o Grande de André Ducci que quero hoje aqui mostrar. É lançado no mundo, amanhã, lá na BD Amadora.
Grande é um dinossaurio. Ou será uma baleia? Ou um barco?
A brincadeira constante com a escala põe-nos a cabeça à roda: num quadradinho, enorme é o dinaussário, mas depois é o barco, só que afinal o barco volta a parecer pequeno.
No nosso tv-dinner de sexta-feira, vimos um documentário sobre a perceção do cérebro humano em que ficámos extasiados com a maneira como o nosso cérebro pode ser enganado.
E também aqui o tropeço na perceção não acabou: umas páginas depois, enquanto seguimos o personagem no seu passeio e já acreditamos piamente que, sim, os dinaussários andam aí outra vez, o bicho explode e ficamos desconsertados (assim com s, mesmo). Porque afinal não é bicho, é máquina e precisa realmente de conserto.
Só que, ainda em mais uma reviravolta, grande, afinal, é o engenhoca simpático dos três cabelos, que comanda a máquina, que a inventa e sonha. E que assim pode ser gigante — ou minúsculo, como quiser, como sonhar e inventar.
Grande é o poder da imaginação e do desenho. Grande é esta ode ao engenho humano em quadradinhos. E não é pouco.
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Grande
Polvo, 2019
André Ducci
isbn 9789898513144
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