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5.9.19

Vagar

Já há folhas secas no chão. O ar ainda está muito quente, mas mas começamos a sentir os dias a ficarem mais pequenos. Agora não nos custa o sol quente: o verão entranhou-se em nós!

À noite revimos as estrelas e as constelações que aprendemos em julho e que tentámos localizar também a sul. A lua anda fugidia, mas magnífica, quando aparece.

Nas férias de verão, porque andamos muito mais perto da natureza e porque o tempo corre mais devagar, acontece naturlamente uma ligação muito mais forte com a natureza.

Este Méliès veio connosco de terras de España. Tem sol e lua, mar e céu, como os que nos acompanharam mais de perto, parece, nestes últimos tempos.

Quem dera consigamos guardar durante o ano este vagar que vem desta altura e que começa rapidamente a fugir pelas pontas dos dedos quando regressamos à cidade.

Méliès era um desses, dos que tem vagar, dos que olha a lua e o sol e que usa o tempo para sonhar e fazer sonhar.

Cineasta e ilusionista foi pioneiro dos efeitos especiais, da ficção científica e do terror.

Se já conhecíamos uma outra homenagem num outro livro, este álbum é também uma homenagem poética, amorosa — e até mesmo cinematográfica ao mestre:

o grafismo e o ritmo do livro lembram o cinema mudo;

a história, quase muda, é uma ode ao poder da imaginação, da perseverança e do amor, juntando à personagem Méliès a sua musa e amada como menina da lua.

as incríveis ilustrações vêm diretamente do imaginário que conhecemos do seu filme mais representativo, ao mesmo tempo que o modo como o ilustrador as manipula é absolutamente contemporâneo.

Ainda não há em português, tal como o anterior Frank, mas tenho a certeza que não tardará aí para nos encantar com as suas poucas palavras e imagens de sonho. Assim espero, com vagar.
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Méliès
Libre Albedrio, 2019
Ximo Abadía
isbn 9788494746253

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