Não só porque tem de facto algumas palavras, mas principalmente porque tem imensos sons. Sons bem ruidosos: estrondos, bater de asas, rugidos, gritos.sustos,
Obra de dois (grandes) ilustradores, vem comprovar que as histórias (também) se contam por imagens.
Não conheço outro livro em que a dupla seja de ilustrador/ilustrador em vez de ilustrador/escritor.
Mvsevm é desde logo uma provocação no tipo de escrita do título que o torna mais intemporal e mais internacional.
Quando o seguramos na mão, tem o toque de uma tela. A contracapa é o reverso da grade e, por termos acesso a ela (coisa raro dum museu), faz-nos pensar quantas histórias estão realmente enquadradas em cada pintura, para além das que vemos na parte da frente.
Ler este livro, trouxe-me à memória o Sr Júlio que fazia grades para pintores, ali, logo abaixo do Alto do Longo.
Este homem, Júlio, por hipótese, vai pela estrada na sua carripana que, como num filme, avaria no meio do espetáculo do fumo.
Acompanhamos a sua entrada na casa branca que é afinal um museu. Ou talvez não.
Sentimo-nos novamente num filme, porque as legendas estão em inglês — e sabemos que ambos os autores são espanhóis. Isso faz-nos sentir mais de fora, como se sente porventura Júlio, à medida que vai observando a galeria surreal que se desenrola em cada sala, como num travelling.
Por aqui, casa de rapazes, somo imunes aos unicórnios e arco-íris que invadiram o mundo dos livros. E que bom é alguém ter pintado esta tela que convoca sonho e pesadelo na boa tradição dos surrealistas. Por poucas palavras, mostra-nos que as boas histórias estão mesmo é aqui na vida, e que o céu matissiano nos pode trazer uma riqueza infinita.
A história acaba (ou continua) bem. Ou talvez não. Não revelarei mais desta surreal e assustadora aventura hitchcockiana. Mas tenho a certeza de que pequenos e grandes vão gostar mvito dela. Arrisquem.
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Mvsevm
Orfeu Mini, 2019
Manuel Marsol e Javier Sáez Castán
isbn 9789898868619
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