trazer de cor

Poesia é para se ler à lareira, no inverno ou debaixo das árvores, no verão. No comboio também é bom, atesto.

Ler poesia não é como ler um romance: o tipo de atenção e disponibilidade que pede estão muitas vezes fora do meu alcance, no dia-a-a dia. A mim, que passei os meus 20's a ler poesia.

Este ano, nos meus anos, recebi uma edição magnífica de Maiakosvki que li de empreitada. Fiquei a pensar como consegui sobreviver tantos anos sem ler poesia.

Acho que me ter rodeado que álbuns ilustrados pode ter tido alguma coisa a ver com isso...

A Bruaá traz-nos mais esta seleção/tradução de um conjunto de poemas, seguindo as pisadas dO tigre na rua.
Editar poesia é um ato de paixão e coragem — e esse binómio nunca faltou à casa Bruaá. Selecioná-la e traduzi-la é heróico.

Quando escolhi Artes, na minha adolescência, hesitei entre Letras. Mas, nessa altura, a minha ideia de tradução resumia-se a cabines de tradução simultânea que me pareciam altamente claustrofóbicas. Hoje, a tradução é para mim apaixonante: passar o dia com uma palavra ou expressão na cabeça até lhe conseguir encontrar o par justo é uma atividade que me agrada muitíssimo. Faço-o por desporto, às vezes.

Este livro é como um saco cheio de boas palavras, boas imagens, que podemos levar connosco.
Quando era miúda, no meu colégio, tínhamos Expressão Corporal. Além de uns exercícios no palco que a Dra. Schultz nos mandava fazer, todas as semanas decorávamos um poema para depois o aprender a dizer em frente à roda da turma. Que lição de vida!

Sei três ou quatro poemas de cor e, há uns anos, os miúdos decoraram cada um um poema (à sua escala) para oferecer nos anos à Avó.

Este jardiniro louco vem conosco de férias. Hei-de os pôr a decorar dois ou três poemas só porque sim. Porque faz tão bem ter guardadas connosco as palavras que alguém juntou para que nós as pudessemos também trazer de cor.

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A canção do jardineiro louco

Bruaá, 2019 

vários autores texto,  Andrea Antinori ilustração

isbn 9789898166425