Ontem, antes de um exame, uma miúda dizia: o verão começa hoje às onze e meia!
O verão começou dia 21, mas só começa realmente quando acontece na nossa cabeça.
O maior dia do ano já aconteceu, mas parece que a partir de agora é que os dias começam a crescer, não a ficar mais pequenos.
Nas férias, a linha do horizonte fica mais comprida e o tempo e espaço que delimita tem também muito mais potencial. Serve de charneira para decisões de mudança, serve para assentar mil sonhos, projetos e projeções. E levanta interrogações.
Ainda não me habituei a que o pôr-do-sol do verão não seja sobre o mar. Até aos 12 anos, a hora de sair da praia era definida pelo desaparecimento do grande astro. Há muito que tínhamos camisolas vestidas.
Agora temos de virar a cabeça para ver onde anda o sol, mas, em contrapartida, tomamos banho de lua. Camisolas, para quê?
Neste Para lá do oceano, o grande Taro Gomi transforma o céu numa tela de possibilidades, num cinema ao ar livre em que o realizador é a menina do lado de cá da margem. Ou então somos nós mesmos.
A narrativa que Taro Gomi constrói para acompanhar estes quadros, onde alterna a interrogação e a possibilidade de uma resposta, é o caminho para o nascimento de um desejo. O desejo da menina (e o nosso) de querermos sempre mais: saber mais, de conhecer mais, de experimentar mais. De saborear a vida.
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Para lá do oceano
Orfeu Negro, 2019
Taro Gomi
isbn 9789898868480
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