
A propósito da recente notícia de mais um serviço de subscrição de livros infantis em Portugal (que não é o primeiro e pouco terá a ver com o que preparo, mas, ainda assim, não gostei do modo como foi apresentado como pioneiro) alguém falava sobre a pertinência de agrupar os livros por faixa etária.

Tenho organizado os livros no site por vários tipos de etiqueta e a da faixa etária ajuda pouco, porque acabo por pôr o mesmo livro em várias idades. É que, quando são mesmo bons, funcionam muito bem para diferentes idades — até à adulta! E foi por isto que trouxe O Tigre Que Veio para o Chá para a prateleira.

Por isto, porque é um ícon da literatura anglófona (e, por isso, universal) e também porque a tradução é da Carla Maia de Almeida. Além de ser uma magnífica tradutora (que nos tem trazido muitos Sendaks pela mão da Kalandraka), é a autora do Irmão Lobo.

A primeira vez que o Tigre veio para o chá foi em 1968 e, em Portugal, apareceu pela primeira vez pela mão da Kalandraka, em 2010.

"Esta é a história de uma menina chamada Sofia,
que estava a lanchar com a mãe na cozinha.
De repente, ouviram tocar a campainha."

As ilustrações de Kerr, uma dama da literatura infantil inglesa, que morreu recentemente, fazem lembrar as da nossa também grande dama, Maria Keil. E a história, em que o Tigre é acolhido em casa e acaba por comer toda a comida que havia, obrigando o pai de família a resolver as coisas indo todos (menos o Tigre) jantar fora, é absolutamente deliciosa.

Entre o nonsense e o surreal, a história funciona como uma enorme loucura no meio de um quotidiano estável e muito "normal". E é por isso que é tão boa. Pondo-a no contexto, claro.

É que este episódio da vida doméstica em que tudo está no seu sítio e um Tigre esfomeado acaba com as provisões familiares pode ser lido, na sua cadência ritmada, como uma história da vida doméstica dos anos 50/60. Só que não!

E esse clique — bem, e o final, — é que fazem deste livro um objeto obrigatório a ter na nossa prateleira-de-baixo-e-de-cima.
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Judith Kerr
Booksmile, 2018 (1ª edição 1968)
isbn 9789897074585
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