Mesmo continuando sem nunca ter ido à Feira de Bolonha, vou mantendo a tradição de encomendar um ou dois dos livros premiados a cada ano.
Este ano fiquei-me por um, porque um deles é português e já tínhamos a sorte de o conhecer há um ano e porque, bem, os miúdos estão a crescer e achei que este era o que faria sentido espreitar.
O R viu-o em cima da mesa e perguntou-me se podia lê-lo. Quando percebeu que era em inglês, pediu para que eu lho lesse.
Nas férias costumo fazer sair livros em inglês (e agora também francês) para que comecem a praticar a língua fora da escola. Quando eram mais pequenos, lia-lhes primeiro em inglês, perguntava-lhes as palavras que já conheciam e depois traduzia. As histórias eram curtinhas, as frases também e o esforço era mínimo para os benefícios que, parece-me ainda, trazia.
Mas esta história das imagens é um livro de fôlego. De maneira que quando o R me chama para mais um capítulo depois de alguns dias mais cansativos, fico meia vesga... Tenho de traduzir diretamente porque alternar as duas línguas com a tradução faria perder o fio à meada e acabo a leitura exausta!
Mas, garanto-vos, vale bem a pena.
Conheci o trabalho fotográfico de David Hockney quando entrei para Artes, no 10º ano, e lembro-me de ficar fascinada. Perdi-lhe o rasto, depois. É dele, este livro, e também do escritor e crítico Martin Gayford onde, ajudados por Rose Blake (ilustradora), contam e refletem em conjunto sobre a história das imagens, desde o tempo das cavernas aos nossos dias.
Agora vou-o lendo ao R, um pouco ao deitar, mas antes, mal chegou, li-o todo numa semana, um capítulo por noite, como se fosse a criação do Mundo.
O livro não é uma enciclopédia, mas antes uma história como deve ser a história-disciplina: uma análise, acompanhada de uma reflexão, dos acontecimentos de um determinado período, percebendo também o contexto desse período, bem como o que aconteceu antes e o que aconteceu (ou acontecerá) depois.
Os capítulos do livro não são organizados cronologicamente, mas no fim há uma linha do tempo para podermos ir tendo um noção do percurso das imagens. E não são organizados cronologicamente porque há assuntos transversais à História do Homem e à História das Imagens.
E é isso que é tão interessante neste livro: os autores escolheram uma abordagem à história a partir de uma série de perguntas e de conversas que foram tendo. O grafismo do livro reflete, aliás, as duas vozes que vão pensando alto, ou conversando, o que se pode ver pelos diferentes tipos de letra associados a cada uma das vozes (o que faz com que me pareça absolutamente desnecessário cada "fala" começar com o nome do autor).
É muito bonito ir lendo ao R os factos e os argumentos, discutindo opiniões e procurando referências que ele conheça, para chegar mais longe. As escolhas dos autores variam entre as obras primas óbvias e outras mais obscuras, passando também por usar obras suas para poder explicar por dentro alguma questão.
As últimas semanas têm sido loucas e acho que percebeu que, entretanto, o melhor era pegar sozinho no livro que lhe dei agora, na sua Primeira Comunhão.
O R parece-me ser o mais visual dos três rapazes cá de casa, de modo que bebe cada palavra e cada imagem do nosso programa de leitura com o mesmo grau de entusiasmo que eu.
Estou desejosa que as semanas acalmem um pouco para regressarmos ao poder e fascínio que são para nós as imagens.
*nota: ia pôr este livro na etiqueta editem em português, quando me apercebi que JÁ HÁ EM PORTUGUÊS pela Edicare. Aproveitem!
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A History of Pictures for Children
Thames&Hudson, 2018
David Hockney&Martin Gayford texto, Rose Blake ilustrações
isbn
9780500651414
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