Um livro pode fazer-nos passear ou sonhar, desejar ou pensar, rir ou chorar.
Um livro nunca nos deixa sozinhos e ensina-nos a estar sozinhos. Também nos ensina a solidão dos outros e, com essa lição, conhecemos melhor o mundo e compadecemo-nos com ele.
Se um livro nos faz isto, imaginem o que não faz por uma criança, por um bebé.
Há pessoas mais ou menos sequiosas de mundo. Essas são as que guardam o inicial espírito infantil — que é muito diferente da infantilidade.
Quando o leio não me sinto a mãe Coelho. Estranhamente sinto-me antes o filho transportado ao colo pela cidade. E é tão bom.
Já aqui falei de outros livros-cinema e este regresso a casa é um desses: um de cinema interior.
Há livros em que sinto que falta alguma coisa: a ideia é ótima, as ilustrações são magníficas, mas falta aquele sininho que ouvimos tocar no final de um bom livro.
No final do Regresso não toca um sininho porque isso acordaria o Coelho. Mas este livro, que não conta propriamente uma história no sentido clássico em que ocorre uma transformação na personagem, leva-nos ao colo e embala-nos até adormecermos. Põe-nos na pele do Coelho, no conforto das rotinas, dos cheiros, das luzes e dos sons que vamos ouvindo cada vez mais longe.
As ilustrações cheiram a almofada e todo o livro é macio como um bom lençol ou uma boa manta.
Às vezes perguntam-me por livros para mais pequenos porque tendencialmente escrevo agora menos sobre esses. Sempre aqui fui escrevendo acompanhando o crescimento dos meus três miúdos e já não tenho bebés.
Mas à conta deste, um dia hei-de pedir um sobrinho emprestado para o pegar ao colo antes de ir dormir e levá-lo neste Regresso a casa até ao país dos sonhos.
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Regresso a casa
Orfeu Mini, 2019
Akiko Miyakoshi
isbn 9789898868381
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