A birra é uma coisa difícil de gerir em qualquer idade, porque por mais que tentemos travá-la a partir do exterior, a coisa tem de se resolver no interior da criança — ou do bebé, ou do adolescente, ou do adulto, já agora. A ajuda exterior é importante, às vezes necessária, claro, mas o certo é que a maioria das vezes, a intervenção só adensa o problema, se não for no tempo certo. O tempo certo normalmente é a chave. De tanta coisa.
Dei de caras com uma história engraçada no NYT e pus as mãos na massa: afinal tenho dois adolescentes em casa e uns oitocentos e tal na escola. Vai ser útil, de certeza. Uma amiga passou-me uma versão mais a meu gosto que o pote de purpurinas e, com o R, fiz o nosso "Frasco da Fúria".
Os rapazes cá de casa arranjaram, de maneiras diferentes, mecanismos próprios para serenarem, é certo, e ainda não usei o Frasco. Mas já falei bem alto da ideia, do método e do tempo que o "Frasco da Fúria" traz dentro dele. Prefiro "Frasco da Fúria" a "Frasco da Calma": parece-me mais certeiro. E, sobre ainda não o ter usado, acredito que se falarmos de algumas coisas en passant antes delas acontecerem, há fortes hipóteses de que não cheguem a acontecer.
Nestes outros dois livros menos conhecidos da trilogia onírica do mestre Sendak, cada história é autónoma, mas ambas abordam as diferentes maneiras que temos de lidar com os sentimentos na infância e os medos que vamos processando nessa fase da vida.
O que está lá fora, de
1981, com ilustrações influenciadas pela viagem de Sendak à
Alemanha, com o objetivo de estudar os contos dos irmãos Grimm, mostra uma
espécie de sonho-pesadelo influenciado por duas experiências da
infância de Sendak: a sua relação com a irmã mais velha e o rapto do
bebé Lindbergh, que abalou a América, nos anos 30.
Na cozinha da noite, de 1970, tem as ilustrações organizadas à maneira de uma BD e mostram um menino (que até nu
aparece — obviamente censurado à época da publicação) numa aventura
noturna pela cidade. É um sonho divertido que nasce também de várias experiências de Sendak enquanto menino, desde a descoberta de que a vida continua de noite, onde, por exemplo, os padeiros e pasteleiros trabalham enquanto as crianças dormem e surgem enquanto personagens que homenageiam Oliver Hardy do Bucha e Estica.
Nos três livros, a paleta de cores não difere muito; já as ilustrações, experimentam coisas muito diferentes.
A grandeza de um ilustrador também se vê na sua capacidade de experimentar e de surpreender. É muito bom sinal poder reconhecer a autoria das ilustrações pelo estilo, mas é igualmente valioso, acho, ser totalmente surpreendido pela sua diversidade.
E foi por tudo isto — porque ninguém disse que a vida era fácil, porque as histórias ajudam à vida, porque enfrentar os medos, os sonhos e os pesadelos nos ajudam mesmo a crescer e porque o politicamente incorreto está fora de moda —, que desenhei um pacote™ especial Sendak que podem subscrever até ao final desta sexta-feira.
Não percam!
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Onde vivem os monstros
Kalandraka, 2009 (1ª edição 1963)
Maurice Sendak
isbn 9789898205315
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Na cozinha da noite
Kalandraka, 2014 (1ª edição 1970)
Maurice Sendak
isbn 9789897490149
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O que está lá fora
Kalandraka, 2015 (1ª edição 1981)
Maurice Sendak
isbn 9789897490255
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