Não terá sido perfeito, nem tão pouco acabou, mas é verdade que o inverno já vai alto.
Hoje ponho aqui um livro que chega em cheio sobre esta primavera prematura e nos faz olhar com mais atenção para as árvores em flor, para os dias maiores, para o tempo que já passou.
E, consequentemente, nos faz pensar como deveria ter sido passado esse tempo.
Para uma hiperativa-criativa, (carapuça que enfio), os projetos são sempre demasiados, mas há sempre mais um a nascer.
À minha volta há outros animais, perdão, pessoas, que sabem viver a vida, sabiamente, noutro compasso.
Há os que precisam de hibernar e os que imaginam mil projetos para montar. Como o texugo.
Esta fábula
contemporânea, ao jeito das mais antigas, com protagonistas animais, é
mais uma belíssima lição que nos dá a autora de uma outra de que aqui já
falei: Estranhas criaturas.
O texugo projeta mil programas, mas os amigos estão todos a dormir, desligados, ferrados, offline. Procura em vão companhia para as aventuras e, no processo, descobre também o prazer da solidão.
Acaba por encontrar companheiros inusitados para o que acaba por ser um inverno magnífico. Só que na hora em que os amigos saem do seu sono reparador e estão prontos para começar a vida —...
As histórias com animais ajudam-nos a olhar mais facilmente para o
nosso umbigo. E se eu, como disse, enfio a carapuça do texugo, parece-me
que esta história pode ajudar muitos meninos a aceitarem ir dormir, o
que — sabemos — não é fácil.
O sono da hibernação, o saber parar, descansar, estar sozinho, prepara-nos para a vida que anda aí à espera de ser agarrada. E ela está mesmo aí, ao virar da esquina, como a primavera.
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Um inverno perfeito
Orfeu mini, 2019
Cristina Sitja Rubio
isbn 9789898868411
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