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8.2.19

Carne para canhão

As notícias desta semana a propósito da Venezuela e do maior prémio de literatura australiano entregue a um refugiado preso, trouxeram para as nossas conversas a palavra guerra, outra vez.
E, para cima da mesa, o livro A guerra.
Não é um livro fácil; como poderia ser?
É um livro bonito e duro. Triste. Cru e certeiro. Como as cores escolhidas para as suas páginas.

Nele, a maldade nunca tem um rosto. Aparece em forma de animais difíceis, botas que reconhecemos pelas piores razões, ombros largos e levantados — que são a imagem da prepotência.

Quando surge sob a forma de cabeça humana, o rosto também não aparece, sempre escondido atrás de um elmo ou de uma mancha, que torna todos iguais, carne para canhão.

Não é um livro só de imagens (um silent book daqueles que a Pato Lógico já nos habituou), mas até podia. Porque, com imagens destas, palavras para quê?

Palavras, sim, talvez para dar os nomes às coisas, para pôr nos ouvidos e nas bocas dos miúdos as palavras que não queremos deixar que aconteçam. Para que as decorem, para que as saibam recusar.

E também para que a frase final do livro, possa, enfim, deixar-nos respirar e que o silêncio se torne naquilo de que é sinal quando tudo está bem: paz.

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A guerra
Pato Lógico, 2018
José Jorge Letria texto, André Letria ilustrações
isbn 9789899965881

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