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9.1.19

Pousar um livro nas mãos

Comecemos o ano com um livro sobre livros. Porque já estamos no futuro e ler, que vem lá dos tempos antigos, ainda é uma belíssima coisa para fazer.
Estou plenamente convencida que as crianças que não gostam de ler, nunca tiveram nas mãos o livro certo para elas. Dislexias à parte (ou outras perturbações que causem cansaço), acredito mesmo que um livro certo pode ser o clique que falta para agarrar um miúdo à leitura. E tenho cá para mim que ler é um ótimo vício.

Com os meus miúdos continuo a usar a regra da BD durante o dia e ao fim-de-semana. Mas a verdade é que, à medida que vou lendo sobre o assunto e ouvindo várias opiniões, estou bastante mais flexível nas minha convicções sobre este assunto: embora continue a achar que uma boa BD não é o mesmo que um bom álbum ilustrado ou um romance, a verdade é que ler é ler.
E também é verdade que as coisas se contagiam, uma coisa leva a outra e, acho, o ato solitário de alguém que pega num livro, é em si um valor. Daí até outros voos é só uma questão de timing. Ou do livro certo.

Os meus rapazes lêem patinhas e Mafaldinha, Lucky Luke e Corto Maltese, Calvin e Charlie Brown. Mas também lêem do resto. Têm gostos diferentes, os três, e o R está ainda a descobrir o prazer de ler um livro grande com menos ilustrações.
Quando vejo que está mais cansado, em vez do pequeno romance com poucas ilustrações, levo-lhe um conjunto de álbuns ilustrados, mais pequenos, que lê de seguida. Ele, talvez mais que os outros, gosta e precisa (ainda?) muito da imagem.

Lucas, a personagem do livro que aqui ponho hoje, não quer ler BD, quer é voar, como já todos quisemos (ou queremos!) um dia. As asas que vai pedindo e recebendo são a fingir e Lucas não quer voar a fingir. Quer mesmo voar. Até que um dia a mãe "pousou-lhe um livro nas mãos".

Que frase magnífica.

Num tempo em que se apregoa com algum facilitismo a liberdade das crianças, em que os pais têm medo de estabelecer regras por quererem ser acima de tudo pais "fixes", esquecemos muitas vezes a beleza que pode ser educar. O apontar caminhos. O estabelecer regras, sim, porque é certo e sabido que dão segurança aos miúdos e, a seu tempo, os irão ajudar a serem responsáveis, fortes e autónomos. Felizes.

É a mãe que pousa o livro nas mãos de Lucas. É a mãe que lhe dá a conhecer o poder da leitura. É a mãe que lhe dá as asas para poder voar. E, reparem, não é por acaso que vemos a mãe a ler no jardim, distraída do pequeno Lucas que já acordou da sesta.

Depois de apanhar o bichinho da leitura, a aventura de Lucas segue para cima, numa montanha de livros em direção ao céu onde, inevitavelmente, acaba por voar. Voar mesmo.
Mas o poder do voo, esse veio pelas mãos da mãe, que lhe pousou o livro nas mãos. O livro certo. Depois outro, depois outro e depois outro.

Por tudo isto, não tenham medo de não ser "fixes" e de lhes dizerem que agora é o tempo de ler e não de TV ou de consolas ou de qualquer outra coisa que inventem para fazer naquela altura. Acreditem que a aventura de ler um livro leva a outras aventuras magníficas. Pousem-lhes um livro na mão. E depois outro e depois outro e depois outro.

Este será com certeza um dos livros que irei enviar nos pacotes deste ano. O trimestre de inverno já está online! Que me dizem de, como resolução de ano novo, em vez de perderem, ganharem um vício? Um bom vício!

Um bom ano!
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A montanha de livros mais alta do mundo
Jacarandá Editora, 2018
Rocio Bonilla
isbn 9789898895196

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