No verão conheci o instagram da Claúdia Mestre, uma beachcomber, e em agosto, além das costumeiras conchas e búzios, andei à procura de plástico na praia.
Na minha ingenuidade, fiquei feliz de não conseguir fazer nenhuma coleção em 15 dias: encontrei 3 ou 4 peças, nada mais.
Fiquei
feliz porque achei que tinha o privilégio de poder ir a uma praia limpa
(e sim, tenho esse privilégio), mas não sabia que no verão há menos
lixo na praia porque a limpam com maior frequência e porque o vento
predominante no verão não traz tanto lixo do mar para terra.
Aprendi isso agora que acabei de ler este Plasticus Maritimus, uma espécie invasora.
Há uns tempos que ando com o plástico na minha blacklist: há muito que deixei
de comprar filme plástico para guardar alimentos, papel de prata também
já não uso e, mais
recentemente, arranjei uns sacos de pano fininhos
para poder comprar fruta e legumes sem mais plástico. Ainda pensei fazê-los, mas estava a demorar tanto a concretizar isso que resolvi o
assunto no supermercado.
Também comecei por embrulhar o pão do lanche
dos miúdos em sacos de pano, mas como eles os perdiam, passei a
embrulhá-lo em papel e a pô-los em caixas com a fruta e o leite. E ninguém
se queixa de que está duro.
Há uns anos que me perturba não apenas a quantidade de
embalagens, mas a quantidade de plástico que existe em cada
embalagem. Quem vai às compras sabe que o consumo mais rápido e mais barato implica mais plástico — as
frutas embaladas (em plástico, claro) são mais baratas que as outras e é
muito mais rápido pegar num saco já feito do que enchê-lo.
Enfim, é pouco. E há quem esteja muitíssimo mais atento a isto e, melhor, muitíssimo mais envolvido nesta luta, que tem de ser global.
As
crianças são o alvo perfeito para este tipo de mudança: para elas o
óbvio é mesmo óbvio e ainda não têm os "mas-na-prática-não-dá" que os
adultos tanto usam para se desculparem da sua preguiça de mudar.
No
verão sou muitas vezes intimada pelos meus miúdos a desligar o ar
condicionado no carro. E, se de facto dá para abrir janelas, desligo
mesmo. Fica quente, mas bem, é verão, é suposto estar quente. E no
inverno a chauffage está muito bem.
Confesso
que fiquei bastante assustada com os números que li. Nem as ilustrações
lindíssimas do Bernardo nos conseguem distrair da gravidade do
problema. E fiquei um pouco desolada, também: porque é mesmo muito difícil
fugir ao plástico. Ao descartável, digo, porque o plástico em si é
objetivamente um material interessantíssimo.
Mas
o livro não é uma profecia da desgraça. É antes um alerta, um guia,
uma ajuda. Contra factos, dá pistas, sugestões, brincadeira, esperança, revolução. É meio esquizofrénico, porque ao mesmo tempo que explica o perigo desta espécie invasora, trata-a
depois como objeto precioso — artístico, até!
O T, que fez 12 há uns dias, repete muitas vezes os 3 R's. Hoje vou entregar-lhe o livro e mostrar-lhe que neste Plasticus maritimus, falam de mais uns e somam sete: repensar, recusar, reduzir, reparar, reutilizar,
reciclar, revolucionar! E sei que ele fará por isso e com ele todos os
que se deixarem contagiar por esta urgente revolução.
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Plasticus maritimus, uma espécie invasora
Planeta Tangerina, 2018
Ana Pêgo, Bernardo P. Carvalho, Isabel Minhós Martins
isbn 9789898145901
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