Tardava, este postal. Porque há muito que não punha aqui um livro e porque é urgente falar sobre o que se passa no mundo.
O Museu do Pensamento foi connosco de férias e, embora na verdade tenha sido uma das peças do Teatro das Compras em 2014, mais parece uma aula de introdução ao pensamento filosófico.
Parte da interrogação sobre o que terão pensado todas as pessoas que durante 128 anos entraram na velhinha Chapelaria Azevedo, lá em baixo, no Rossio e na ideia de que o chapéu protege pensamentos e sonhos.
E foi exatamente por isso que emparelhei este livro com o do Chapeleiro lá no Lu.Ca, no Ciclo Catarina Sobral.
Já pus aqui na prateleira alguns livros de filosofia (mais ou menos explicitamente) para crianças e há uma outra coleção que os mais velhos já devoraram e à qual voltam com frequência. Este Museu é um livro para aprender a pensar, para fazer perguntas, uma espécie de chapéu pensador do professor Pardal.
Não me parece o livro mais certeiro para o R, 7, mas foi um dos que restou fora dos caixotes durante algum tempo (em que se aproximavam de mim com ar sofredor a perguntar se já não havia mais nada para ler). De modo que acabou por o ler mesmo.
Um dia, antes de lhe ir apagar a luz, perguntei-lhe o que estava a achar. E é o diálogo que se deu depois dessa pergunta que aqui vos deixo hoje:
Disse-me que era um bocado estranho: "Pensar em nada... Como é que se pensa em nada? Está-se sempre a pensar em alguma coisa... E o que é que é o nada?..."
T, 11, na cama ao lado, atira: "O nada é o vazio, é o mundo sem Deus."
Encolhendo os ombros e rebolando os olhos responde R: "Ó, isso é impossível..."
"Exato," respondeu T, "é por isso que é o vazio!"
Encostada à ombreira da porta, assisti àquele diálogo socrático entre os dois miúdos. No fim perguntei ao T onde tinha lido ou ouvido aquilo e respondeu-me que tinha pensado só naquela altura, para ajudar o R a tentar perceber.
Assisto também, deste lado do oceano, à luta política de tantos amigos brasileiros. A história repete-se como sabemos, mas nem por isso deixa de causar estranheza e choque.
E é por isso que hoje lhes dedico este postal, na certeza de que vale a pena atirar o chapéu ao chão em sinal de protesto e na esperança de que o possam atirar ao ar em sinal de festejo. E que, depois, possam começar juntos a reconstrução de um país pensado para todos.
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O Museu do Pensamento
Editorial Caminho, 2017
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