Os portugueses têm a mania de falar sobre o tempo. É uma espécie de quebra-gelo, passo a expressão, para iniciar cada conversa.
Ou que já não se pode com o frio, ou que o calor já não se aguenta, que parece que o verão não chega, que até no tempo somos agora oh tão europeus. Enfim.
Falava com uma amiga estrangeira que vive cá e que me dizia que na terra dela o tempo não era um pura e simplesmente um assunto. Este fenómeno meteorológico, digamos assim, é mesmo muito nosso.
É também por isso que acho tanta graça a esta A nuvem.
Vejo naquela populaça que admira a estranha nuvem (que se veio instalar sobre a região) como toda uma nação, Portugal inteiro, a vociferar contra o tempo.
Há os que desenvolvem teorias, os que analisam, os que desconfiam, os que imaginam, os que se zangam.
E a nuvem sempre lá.
A vida a desenrolar-se cá em baixo, e a nuvem por cima, imóvel, sempre lá.
Na minha falta de paciência, que vem com o cansaço nesta altura do ano, juro que me seguro para não dizer a cada pessoa que me fala do tempo que uma nuvem é só uma nuvem. Pronto. Até sou uma pessoa reivindicativa, mas contra o tempo valerá a pena falar? Gastar tanta energia?
Vejo este livro como um filme, uma curta-metragem, daquelas que nos faz sorrir no fim. Ou ficar desamparado, como aconteceu aos miúdos cá de casa.
Que aproveitem os dias, com ou sem nuvens, deste verão — é o que desejo a todos! — e que sejam cheios de histórias tão boas como esta,
feita de quase nada.
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A nuvem
Pato Lógico, 2018
Rita Canas Mendes texto, João Fazenda ilustração
isbn 9789899999855
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