Fiz anos há uns dias e resolvi finalmente tirar de baixo da pilha de livros (que vou acumulando e que quero aqui mostrar) um que já ali está há mais de um ano. Fui adiando escrever sobre ele porque é um livro que dá luta, dá trabalho e de facto é difícil de entender.
Quando o livro apareceu por aqui o R estava a dar os primeiros passos na leitura e achei que pô-lo a ler Ké Iz Tuk? seria uma má jogada... Hoje vai estar no tapete para quando chegar da escola.
Pareceu-me o livro certo para assinalar mais um ano de existência: porque é um livro difícil de entrar se quisermos lê-lo com olhos muito "crescidos" e também porque nele está o ciclo da vida, a passagem do tempo, a relação com os outros e com o mundo e essas coisas todas que nos vêem à cabeça quando fazemos anos. A mim vêm.
Também há uns dias, pensava e discutia que o meu papel enquanto curadora destes pacotes™ — que continuam a seguir caminho por esse mundo fora —, também é dar a ver, a ler, livros "fora da idade," para cima e para baixo.
É que se é verdade que vale a pena usar livros mais "puxados" para provocar miúdos que já têm ritmo de leitura e alguma maturidade, também é verdade que há pontos importantes que só se atingem com outro tipo de livros eventualmente "demasiado infantis".
Um das vantagens que tenho em continuar a receber álbuns ilustrados para os mais pequenos (além do meu próprio deleite) é que o
B,13 quase 14, leitor ávido e maduro, continua a ler tudo o que
aparece por cá, inclusivamente os livros que não são para a idade dele —
mas para baixo.
Os álbuns ilustrados têm uma riqueza de leitura que desaparece dos livros só de texto. Têm ainda mais diferentes possibilidades de leitura pela convivência do texto com a imagem. E assim podem fazer soar campainhas que não tocam de outra maneira, sem as imagens em relação com a palavra.
Em adultos perdemos muita capacidade de ler imagens e talvez por defeito de formação, parece-me uma ferramenta tão útil e lúdica ao mesmo tempo que a devemos amparar o mais possível.
Até para não ficarmos desarmados perante esta provocação de Carson Ellis, que nos põe a assistir e a ler a língua dos insetos que vivem neste magnífico microcosmos.
Reparem que se fizermos a leitura do livro como se fossemos pré-leitores, só pelas imagens, não há nada de difícil nesta história. O problema começa quando queremos decifrar o texto, as falas das personagens.
Mas se sabemos que a linguagem dos animais é mesmo muito diferente da nossa, então não será difícil aceitar que se há aqui coisas que percebemos exatamente o que querem dizer, outras temos de tentar adivinhar ou até mesmo aceitar ficar "às escuras".
Que trabalho este, o da tradutora!... Espero que se tenha divertido e não desesperado.
Crescer em graça e em sabedoria vai muito para além dos verdes anos.
E aprender a desaprender é essencial para que possamos guardar connosco um bocadinho do mistério da Vida que recebemos no momento inicial da nossa existência.
Para podermos voltar a olhar para as coisas como da primeira vez.
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Ké Iz Tuk?
Orfeu Mini, 2016
Carson Ellis
isbn 9789898327710
Este livro veio por acaso parar ao saco dos livros que trazemos da biblioteca (normalmente eu não selecciono grande coisa, os miúdos trazem para a mesa o querem levar e eu deixo-me surpreender) e foi tal o sucesso que já o voltámos a requisitar; para além que é um daqueles livros que nos deixa - ainda - a repetir frases muito para além dos tempos em que os lemos. Ainda hoje dizemos "Ké iztuk?" e "Tété" e "Xú!"
ResponderEliminarEu agora pergunto ké iz tuk?:)))
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