Um destes dias reli o Quando Teodoro encolheu, que tinha desenterrado da prateleira para obrigar o R alternar com os Ásterix — está um verdadeiro fanático e repete "Por Júpiter!" sempre que pode — e percebi que nunca o tinha posto nesta prateleira.
Cá por casa já todos leram o Teodoro mais do que uma vez.
Às vezes fico doida com a mania que têm de reler livros, quando podem pegar num que nunca leram. Mas, do mais novo ao mais velho, todos gostam de reler os favoritos.
Acalmei quanto a isso quando, num artigo recente, li que "se para os adultos reler é uma indulgência, para as crianças é uma necessidade". E lembrei-me do tempo em que tínhamos de reler o mesmo livro vezes sem conta e de como isso ajuda mesmo a crescer.
Desta vez, a história de Teodoro pareceu-me ser sobre a adolescência. Provavelmente estava já influenciada pelo evento do fim-de-semana: vou ao D. Maria II com o mais velho ver a Montanha-Russa, de Inês Barahona&Miguel Fragata.
Sou totalmente fã desta dupla
e não espero menos que excelente do espetáculo sobre a adolescência que
andam há tanto tempo a desenhar. "Do bosque para o mundo" e "A
caminhada dos elefantes" são espetáculos que (de vez em quando repõem e) se não viram, não devem mesmo voltar a perder.
A inquietação pelas transformações por que passa o corpo do pequeno Teodoro, a dificuldade de comunicação entre ele e os pais, o desajuste das preocupações dos adultos — mais centrados nas convenções do que no drama que o miúdo atravessa, sem tempo para realmente olhar para ele, a passagem dos 0 aos 100 km/h da preocupação sensata à total indiferença, o esforço na relação com alguns pares, tudo me parece ser um belíssimo retrato dum adolescente no mundo.
As ilustrações magníficas e requintadas de Edward Gorey, o "Tim Burton do seu tempo", como o chamou Maria Popova, sublinham a áurea negra desta história insólita em que, num belo dia, Teodoro acordou mais pequeno e durante vários dias continuou a encolher perante a preocupação indiferente dos pais.
(A cara verde na contracapa não é um erro de impressão, e mais não digo sobre o final desta história insólita.)
Se
fazer coisas de qualidade para crianças tem o que se lhe diga, para
adolescentes a questão cresce exponencialmente. Afinal, eles são as criaturas
mais críticas à face do planeta.
Veremos o que diz aquele que anda na Montanha-Russa cá em casa da soirée de sexta. É que ele está tudo menos a encolher!
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Quando Teodoro encolheu
Livros Horizonte, 2011 (1ª edição 1971)
Florence Parry Heide texto, Edward Gorey ilustrações
isbn 9789722417525
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