Por todo o lado há listas de resoluções de inicio de ano. Há muitos este-ano-é-que-vai-ser no ar, como é próprio da época e do modo circular em que a humanidade tende a funcionar.
No início do ano, todas as possibilidades estão em cima da mesa, tomam-se resoluções, fazem-se revoluções —?
Aqui, este amigo, olha para o seu quarto de sempre e percebe que se aborrece que tudo esteja sempre no mesmo sítio: a cama, o armário e a mesa. Decide mudar, porque é inconformista. As alterações têm consequências afinal não muito positivas e ele decide alterar a situação novamente. Desta vez de forma vanguardista. Mas isso também não funciona, porque o Homem é um animal de hábitos e tudo volta ao mesmo.
É nesta altura do livro que vem uma frase bombástica, que nos faz — ou devia fazer — tremer na cadeira: "Se, dentro de um determinado enquadramento, nenhuma mudança é possível, é necessário evitar completamente esse enquadramento." O português tem obviamente um ditado para isto: "Quem está mal, muda-se."
É então que decide fazer uma revolução. De aborrecido passa a inconformista, torna-se vanguardista e rapidamente se transforma num revolucionário.
Quando li este livro de pé na livraria, ri sozinha, como alguns maluquinhos. Achei-o divertidíssimo e incómodo. Depois achei-o triste. Depois resolvi trazê-lo para o sapatinho do R porque me pareceu um livro valioso. (E depois contactei a Alfaguara para se juntar aos parceiros do pacote™!)
Ontem dei-o a ler e sentei-me ao lado do R, a fazer de dicionário; o livro tem muitas palavras difíceis. Depois leu o T e logo a seguir o B.
O R ficou tão fascinado com a ideia de dormir no armário, como com o desenho do esqueleto dentro do armário.
O T achou que a história iria seguir assim: ele dorme no armário, põe a roupa na mesa e come na cama.
O B achou muito divertido e não ficou nada incomodado, como eu, que tudo regressasse à estaca zero. Porque na verdade, nada ficou como antes. Porque agora ele sabe, por experiência própria, que afinal está tudo bem, mas que foi mesmo preciso passar por tudo aquilo antes.
Podemos ler esta história como o nascimento de um revolucionário ou a construção de um reacionário. A escolha é de cada um, como sempre. Se queremos ser revolucionários ou reacionários, se queremos tomar resoluções ou fazer revoluções.
Vamos a isso?
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A revolução
Alfaguara, 2017
texto Slawomir Mrozek, ilustrações Tiago Galo
isbn 9789896653354
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