Pena, só mesmo o papel. Minhoquice, talvez, mas os livros são também objetos.
Só que foi na semana do terramoto no México que encontrei este livro e por todas as razões e mais esta, veio parar à prateleira.
Das ilustrações nem vou falar: olhem só para estes pintores, para os seus instrumentos, para os seus pompons, para os sues cabelos riscados!
A história é simples e épica, ao mesmo tempo, naquele tom que o autor usa — e de que gosto tanto — em que grandes coisas são tratadas com poucas palavras e o tempo anda oh tão depressa.
Começa brutalmente, com a morte do rei, entre outros, num terramoto. No parágrafo seguinte passa para a subida ao trono do filho, que se safou por ter lido muitos livros e por, por isso, saber o que fazer numa situação destas.
O miúdo era pequeno mas subiu de imediato ao trono. Não há luto, não há choro, não há saudade. Ou talvez haja, mas vamos já em direção ao futuro, a um futuro melhor. O reino está destruído e é preciso reconstruí-lo.
Pintores, pedreiros, arquitetos, engenheiros, botânicos, zoólogos e agricultores
(tantas palavras novas para ensinar ao R, tantos ofícios tão bonitos para o T e o B já sonharem ser)
deitam mãos à obra para reinventar a cidade segundo a visão literária do novíssimo rei.
Perante a desilusão dos seus projetistas com o desfazamento entre a primeira visão e o desenho final, este rei não bota-a-baixo. Em vez disso, elogia as pequenas grandes ideias, não perfeitas, mas muito boas, e a cidade ergue-se.
Não é um conto de fadas. O mundo não é perfeito. De certeza que houve e haverá (oh se há) outras tragédias naquele reino, naturais e humanas. Mas é um conto de esperança, de utopia, de comunidade, de mãos-à-obra, de otimismo, necessário hoje e sempre. Como os livros que o pequeno rei lia e que lhe salvaram a vida — e deram à cidade casas com telhados da cor dos dias de sol.
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Os livros do rei
Alfaguara, 2017
David Machado texto, Gonçalo Viana ilustração
isbn 9789896652364
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