É difícil voltar a escrever depois de tanto tempo a "escrever" para dentro. Tantos livros e tantas histórias de verão se misturam na cabeça!
A cidade e as serras foi o meu último livro do verão, depois duma ida a Tormes, pelas serras de Jacinto. Achei que o tinha de reler depois de respirar aquele ar da serra e de comer o tão famoso arroz de favas, mas acabei por perceber que afinal era uma estreia. Devo ter lido a Civilização, só, este nunca.
E se não foi uma coincidência ter escolhido este livro para o epílogo das férias, a sua leitura foi muitíssimo certeira para o que vinha pensado neste mês e meio de praia e campo.
É só a meio do livro que o "meu príncipe", decide abandonar Paris e vir para Portugal, para a serra, para longe da civilização. Não é uma partida tipo mudança de vida: Jacinto leva — ou acha que leva— consigo todas as comodidades da civilização. A mudança de vida dá-se depois, de mansinho, com os ares da serra.
Este regresso à cidade, às rotinas e, principalmente, à diferença que se instala na vida da família, baralha-me. E porque me custa a adaptar ao imenso tempo em que passamos a não estar juntos — embora saiba que é saudável e natural que esse tempo vá aumentando — uso nesta altura imensas energias, tempo de reflexão e gestão para garantir que depois, tudo o que queremos que encaixe neste ano, possa fluir sem stress.
É a hora de conseguir equilibrar gostos, necessidades, tempo e bolsa nas atividades de cada um e já é bem mais fácil controlar-me no gosto que tenho em proporcionar-lhes experiências. Chamam-me hiperativa-criativa, mas a sério que estou cada vez mais adepta do viver devagar.
Leio muito sobre educação, quer por razões profissionais, quer pessoais. Quando o B nasceu, estudei a hipótese do homeschooling, procurei Montessori, li o Dodson e espreitei o Brazleton. Penso sobre as correntes que vão aparecendo, algumas cómicas, (mas que com os excessos em que caímos não são de estranhar), como os freerange kids, o número e o tipo de atividades, como hão de ir para a escola, para que escola, qual a idade certa para o telemóvel, quais a regras que vamos combinar, as tarefas em casa, o tempo em família. Depois decido, decidimos, procurando um equilíbrio. A cidade consome. Somos de facto criaturas estranhas. Rodeamo-nos de civilização e depois?
A idade ajuda a ir clarificando as coisas, acho, e vou alterando algumas coisas que, de facto, não têm de ser assim. Nisto, o verão ajuda a ver mais claramente o que queremos realmente.
O equilíbrio da civilização, o equilíbrio entre a cidade e as serras que procuro criar durante o ano é, para mim — uma dessas criaturas estranhas! — difícil de encontrar.
Às vezes é preciso uma lição de simplicidade e de objetividade sobre a real importância das coisas:
ela pode vir dos lírios do campo, destes animais da floresta do Criaturas estranhas ou de nós mesmos, do verão que passámos fora da cidade, descalços, sem grandes malas, só com um saco de jogos e outro de livros
e muito tempo de luxo para dar uns aos outros.
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Criaturas estranhas
Orfeu mini, 2016
Cristina Sitja Rubio
isbn 9789898327727
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