E bem, estou em Lisboa e não em Bolonha, onde queria estar esta semana. Ainda não é desta, mas um dia irei à minha disneyland, acredito.
Vou seguindo ao longe os livros escolhidos e selecionei três para espreitar. Este é o meu predileto.
Estou a colaborar com um novo projeto/espaço em Lisboa, o Atelier Montessori, na criação do cantinho de leitura, entre outras coisas. Sobre os livros a escolher, uma das categorias de livros que Maria Montessori aconselha estarem à disposição dos pequenos leitores — ou pré-leitores — são os livros sobre histórias verdadeiras, biografias, vidas inspiradoras.
Há por cá uma nova coleção à qual ainda não dei a devida atenção (as ilustrações do artista argentino Pitu Sáa não me atraem de todo), mas é um tipo de livro não muito comum em português. Tenho quase a certeza de que todos os que temos, a começar por este e a acabar no que hoje aqui trago, são em inglês. Há uma série deles que gostava de ver editados em português: este, este, este, este ou este, por exemplo.
Dizia, nesse postal de 2009, que "Melhor do que uma boa história, só uma boa história verdadeira." Não me lembrava de ter escrito isso, nem sequer concordo comigo mesma, acho... Mas o que é certo é que, se as crianças se fascinam com histórias, é com as que depois lhes dizemos que aconteceram mesmo, que eles esbugalham os olhos e perguntam "Mas é a sério?!...".
Este livro conta a história de Louise Bourgeois, uma das artistas plásticas mais importantes do século XX. As ilustrações são muitíssimo bonitas: realistas e poéticas, clássicas e experimentais.
E não pode ter sido por acaso que hoje aqui juntei estas duas grandes mulheres, Maria Montessori & Louise Bourgeois, senão vejam:
"A mão da criança é o espelho motor da sua inteligência.", MM e "Não sou aquilo que sou. Sou aquilo que faço com as minhas mãos.", LB.
Nesta história, acompanhamos a vida da menina Louise, que vive à beira
dum rio e que cedo começa a participar no negócio de família de restauro
de tapeçarias. E percebemos como essa infância influencia claramente o seu
percurso enquanto artista plástica.
A sua famosa e monumental aranha chamada Maman ganhou finalmente,
para mim, uma explicação e uma explicação de ternura: a aranha é afinal
a mãe tecedeira, é quem nos protege dos mosquitos — e não o bicho feio
de quem tanta gente tem pavor.
Quando penso no que gosto mesmo de fazer, passa por uma variedade de
coisas, é certo, mas pelo menos uma delas tem de incluir qualquer coisa
feita com as mãos. Cresci junto da minha Avó,
com quem sou parecida, dizem, e que também estava sempre a fazer alguma
coisa com as mãos, tal como a minha Mãe está.
De vez em quando
desenhamos todos juntos, em casa ou na quinta. Que memórias guardarão os
meus miúdos destes momentos em que nos juntamos à volta da mesa ou de
algum objeto e o desenhamos?
De que forma o modo como trabalho com as
mãos, cirandando à volta das suas vidas, irá influenciar aquilo que são,
serão no futuro? Se reconheço no R este prazer manual, o B é mais
cerebral e o T mais físico. Os três são muitíssimo distraídos, muitas
vezes entretidos no seu mundo interior e acho sempre que não reparam em
nada. Mas elogiam muitas vezes coisas que faço, apreciam e reconhecem
até outras pessoas que "fazem coisas como a Mãe".
Estou com a ideia de fazer um tapete. Só ainda não tomei coragem, porque tenho vários projetos em mãos (!) para acabar: a obra de Santa Engrácia e o pano para o carrinho de chá que estou a bordar com desenhos de quando o R tinha 4 anos. Tem 6, agora.
Haja tempo.
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Cloth Lullaby The Woven Life of Louise Bourgeois
Abrams Books, 2016
Amy Novesky texto, Isabelle Arsenault ilustrações
isbn 9781419718816
Que lindo que é! Estou contigo quanto às "anti-princesas", passaram-me ao lado porque não acho graça nenhuma às ilustrações. Agora este que mostras é outra loiça <3 <3
ResponderEliminarMas é pena, fazem falta anti-princesas, que são as maiores princesas! E, sim, este é MUITO bonito.
EliminarParece tão interessante! Relativamente ao anti-princesas a verdade é que caiu que nem ginjas a menina cá de casa que se sente sempre longe das brincadeiras das amigas e que ganhou assim argumentos de força, melhores do que a mãe a dizer que ser diferente é uma coisa boa.
ResponderEliminarMas o exemplo é sempre a melhor escola, não Ana? Mas sim, um bom livro explica muita coisa que não se explica;)
EliminarQue inspiração Sara .... Obrigada, como sempre
ResponderEliminar*
Partilho a falta de entusiasmo pelas anti-princesas (a realização, não a ideia!) e estou à espera de receber a minha cópia do Cloth Lullaby.
ResponderEliminarEntretanto, regressámos ontem de Itália, onde não consegui ver a versão local de A casa (fica para o verão), mas onde o mais recente grande caso literário é este livro: https://www.rebelgirls.co/products/good-night-stories-for-rebel-girls, que está em verdadeiras pirâmides em todas as livrarias e nos topos dos mais vendidos. Trouxemos, depois conto o que achei, mas também não resistimos a um volume de histórias da Lotta, pela Astrid Lindgren, com ilustrações da Beatrice Alemagna. Acho que encaixam todas elas na lista das princesas alternativas...
Obrigada, Paola! Acho que acabou de me encontrar o presente de aniversário perfeito para a nossa afilhada teen;) Embora tenha esperança que, com o andamento das editoras portuguesas, esse venha cá ter rápido.
EliminarVá dando notícias!
Após tantas sugestões e ideias que tirei aqui da Prateleira, fico feliz em poder retribuir!
EliminarA pequena já começou a ler, a primeira é Ada Lovelace e ela ficou toda impressionada com o pai e a mãe saberem quem foi... a propósito, lembrei-me de uma série que talvez também possa ser interessante para uma tween, a Wollstonecraft Detective Agency de Jordan Stratford, em que a Ada é uma personagem.