Enquanto o B classificava árvores e arbustos com a Avó e o T
e o primo exploravam sozinhos a quinta, demos hoje um grande passeio — eu, o R e a V, como há 3 anos atrás. Ia-lhes chamando a atenção para as cores
das flores, as formas das folhas, o tamanho das árvores, o cheiro do
campo e, quando dei conta, tinham começado uma coleção.
É inato, parece, este ato de colecionar, de recolher e guardar: eu coleciono pedras e bules; colecionei borrachas, em miúda, uma preciosidade que guardo religiosamente para uma neta. No fim de cada verão guardamos uma caixa com as conchas que vamos recolhendo todos os dias. O B tenta fazer uma coleção de garrafas que não encorajo, por causa da falta de espaço e, patrocinados pelos avós, sempre cromos de futebol.
Enfim, depressa reunimos
as peças suficientes no nosso passeio para uma exposição. Fizeram o projeto expositivo e a montagem nos degraus de granito e
trabalharam nos cartazes; a exposição foi um sucesso!
E este livro que hoje aqui trago é uma ode aos museus, mas também uma ode ao ato de colecionar. Ao museu que cada um constrói, à sua própria vida.
Há uns anos, de visita a Paris com os Avós e os dois mais velhos (na altura com 1 e 3 anos) fomos visitar vários museus. Como era uma coisa que fazíamos já com os meus pais quando ainda não havia crianças, mantivemos a ida às mostras que nos interessavam, desta vez levando-os.
Foi numa dessas visitas que aprendi realmente a levar miúdos a exposições. Há exposições mais cativantes que outras e a velocidade a que vemos as salas não é a mesma, claro, mas desde pequenos que nos acompanham e os truques que aprendi nesse pequeno museu há 9 anos atrás, têm sido utilíssimos na conquista das salas de exposição por estas bandas. Hoje em dia temos já alguns Serviços Educativos bastante bons, mas fazer esta afirmação há 9 anos atrás não era assim tão seguro. E foi por isso que, na altura, achei aquela folha A4 uma coisa extraordinária.
Não era nada de exuberante em si, mas as pistas que apontava para ajudar os miúdos a envolverem-se com o que estava exposto, a interrogarem-se, a procurarem, a saberem apreciar, tenho-as usado muitas vezes ao longo dos anos. De modo que agora, quando entramos na sala dum museu, eles espalham-se (já podem andar à solta) e regressam pouco depois para dizerem quais são as coisas preferidas naquela sala, um dos truques que aprendi.
Outra dica engraçada é olhar rapidamente para a sala e tentar vislumbrar alguma coisa que, sabemos, lhes vai interessar: um cavaleiro, uma faca, um cacho de uvas, um chapéu, uma roda, uma cor específica e chamar-lhes a atenção para isso. Os mais pequenos ficam encantados por reconhecerem objetos ou personagens.
Quando sabemos que são exposições onde vamos querer estar mais tempo do que eles aguentam (embora eu também não aguente muito) levamos os diários gráficos e eles ficam a desenhar uma das peças da exposição que os tenha interessado.
São três dicas simples que funcionam sempre, até ao dia em que eles próprios já pegam na folha de sala, fazem perguntas sobre qualquer coisa que está escrita na parede ou pedem para ir a uma exposição específica, normalmente mais científica que artística...
Este The Museum of Me percorre os museus duma cidade (Londres, Paris, NY...) para tentar explicar o que é um museu e que um museu é uma coisa fascinante. E não é mesmo? Mas também que um museu podemos ser nós próprios e o mundo que criamos à nossa volta.
Poderíamos até chamar-lhe um livro de atividades: nas páginas do fim, há espaço para poderem adivinhar de onde serão algumas peças apresentadas, desenharem outras, proporem um museu de alguma coisa, ou dizerem o que colecionam.
As flores que colecionámos já voaram com o vento quente que por aqui andou a varrer, ao pôr do sol.
Restam os cartazes na porta, a lembrar-nos de olhar para cada coisa (e para nós próprios) com a atenção que devotamos a uma obra de arte, mesmo que seja apenas uma flor do campo.
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The Museum of Me
Tate, 2016
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