Vamos mudar de casa. Não é já, nem é tão cedo, mas agora que a obra de facto começou, estamos mesmo a acreditar que vai acontecer.
Vivemos, como família de 5, desde sempre aqui, no meio da cidade, no lugar mais alto da colina. É como andar de barco no rio e na cidade, ao mesmo tempo. Toda a gente dizia que uns tempos depois íamos deixar de olhar para a vista e que era uma loucura os 85 degraus que teríamos de subir: toda a gente estava errada em relação à primeira ideia; quanto à segunda nem tanto, mas quem é que está a contar?
Sempre pensámos que quando viessem meninos sairíamos daqui, mas acabei por subir 3 barrigas por estes 5 andares acima e eles aprenderam a subir escadas quase antes de saberem andar.
Era uma questão de sobrevivência.
Mudar de casa, para um criança, não é bem a mesma coisa que para um adulto. Se estão desejosos de terem mais espaço, de não haver uma gestora para a casa de banho, de poder estar um a brincar e outro a estudar sem estar a casa toda em suspenso para não nos incomodarmos uns aos outros, quando lhes falámos que isto ia acontecer, começaram por ficar em pânico: "E as nossas coisas?...", perguntavam.
A casa é um lugar totalmente concreto, mas também totalmente abstrato. Porque a casa é onde nós estamos e o que lá fazemos. Por isso a casa somos nós e são também os livros, os brinquedos, as cadeiras, os pratos e os desenhos na parede.
A diferença entre o que é a casa-construção e o que é a nossa-casa foi uma explicação que tivemos de ir dando durante uns tempos, porque de vez em quando perguntavam: "E os playmobil, vão? E aquela parede, vai? E o tapete?..."
Onde acaba o chão e onde começa o tapete não é assim tão óbvio, aparentemente. E não, o tapete não é um Kilim extraordinário ou um Arraiolos de família, mas é o campo de futebol dos playmobil, daí a sua extrema importância.
Mudar duma casa pequena mas tão cheia de histórias, assim, não é pêra-doce. Vamos para melhor, para maior. Vamos para onde haverá mais espaço para cada um e onde a vida será logisticamente muito mais fácil. Vamos de cima para baixo. Que história construiremos aí, nesse novo lugar, nessa nova casa-nossa?
Finalmente a desculpa perfeita para mostrar aqui este livro com os desenhos do mago do realismo, Roberto Inoccenti (o texto não me encanta), onde acompanhamos a vida duma casa ao longo do século XX.
Também vamos ocupar parte duma casa de família, e seremos responsáveis pela sua vida, por aquilo que vai testemunhar, pela continuação da sua história que tem de ser, — será! — memorável. E, asseguro, muito mais bonita que esta mansão!?...
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A casa
Kalandraka, 2010
texto J. Patrick Lewis, ilustrações Roberto Innocenti
isbn 9789898205353
Acho curioso que a versão italiana indica texto de Roberto Piumini e os comentários reparam todos na qualidade e na poesia do texto... hei-de investigar e depois digo o que descobri.
ResponderEliminarE sim, mudar de casa para uma criança que só conheceu uma é uma experiência entusiasmante mas traumática - nós também estamos a planear uma mudança e as dúvidas e perguntas são muitas.
Que estranho.. Já descobriu?
EliminarAinda não... mas vamos à Itália para a semana :)
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