Na educação dos filhos há coisas sobre as quais pensamos muito e tomamos decisões fundamentadas; outras há que correm duma forma mais casual, sem grande pensamento. Em ambos os casos, há umas que correm bem, outras nem tanto. Então reformula-se.
Não sou promotora da leitura, nem crítica; não sou jornalista, não sou sequer de Literatura ou de Ilustração. Mas gosto mesmo de livros e cá em casa, por acaso ou não, esta coisa da leitura correu, corre, muito bem.
Aqui ficam, por isso, os 10 rituais que me parecem, afinal de contas, construir este sucesso:
1. Nascer em berço de livros
Desde muito cedo (9 meses) deixávamos na cama de grades, antes de nos deitarmos, dois ou três livros. De manhã, os miúdos habituaram-se a lê-los antes de nos chamarem. Isso dava-nos mais horas de sorna e criou neles o ritual do livro como a primeira coisa com que brincam de manhã.
2. NO-tv
Aconteceu que ficámos sem televisão, de maneira que não havia televisão para ligar de manhã. Depois passou a haver televisão, mas o ritual já estava lá. E quando vieram outros irmãos, nenhum ligava a televisão porque isso era simplesmente uma coisa que não se fazia.
3. A noite não é o fim
Para uma criança pequena, o adormecer pode ser difícil porque é o fim de um dia. E a noção de tempo é muitíssimo abstrata. Quando é que vai começar outro dia? Ouvir uma história antes de dormir, uma história contada à sua altura — como fazem os índios — dá segurança à criança e prepara-lhe os sonhos.
4. Mas eu não sei ler!
As imagens também se leem, dizemos sempre quando nos atiram a deixa para lhes irmos ler a história. Ler a história com o miúdo é fundamental, claro, mas tão fundamental como isso é ensiná-lo a ter uma ligação pessoal com o livro. Primeiro lê as imagens, depois ouve a história.
5. A prateleira
Para procurar um livro na prateleira, andamos (de cabeça ora para um lado, ora para o outro) a ler as lombadas. Mas um miúdo que não lê fica reduzido a uma tirinha de cor para identificar o livro. De modo que, de vez em quando, tiramos uns livros para cima do tapete e ouvimos — Olha este livro!
6. A Feira do Livro
O ritual da ida à Feira do Livro, onde a procura dum livro se mistura com uma fartura, um gelado ou um algodão doce, tem feito maravilhas na aprendizagem do prazer pela leitura. A Ilustrarte, a BD da Amadora ou a ida a uma livraria numa viagem, são outros programas ótimos para fazer.
7. O objeto-livro
"Os livros são objetos transcendentes mas podemos amá-los do amor tátil que votamos aos maços de cigarro", canta Caetano Veloso em Livro. Deixar a criança escolher o livro que quer levar numa viagem —travel light! — faz dele um tesouro precioso, por ser um dos poucos pertences que carrega para um lugar novo.
8. Mais meia hora
Se, à hora de deitar, puderem acrescentar mais meia hora de luz acesa caso queiram ler, não vão ler?...
9. O castigo
Quando o vício já lá está, a possibilidade de ficarem sem história se insistirem numa asneira funciona mesmo.
10. O vício
O gosto pelo livro tem, como todos os vícios, o problema do gasto. Mas um livro é um investimento para a vida, para os irmãos, para os primos, para os filhos, para os netos e nem se gasta como a roupa! É, no final de contas, um vício que acaba a construir uma biblioteca. E haverá coisa mais bonita?
E bem, até dia 6, ainda podem pedir ajuda ao PACOTE-da-prateleira-de-baixo: receber uma encomenda pelas mãos do carteiro — dois livros-surpresa! —pode bem ser o clique que falta para fazer nascer mais um leitor voraz por aí.
Um *Bom Ano* para todos e boas leituras!
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