Nos filmes sem legendas temos de ir fazendo tradução simultânea para o R entender, mas neste caso dissemos-lhe que a conversa não interessava muito, que a imagem e o som é que eram o filme.
Quando fui procurar vídeos no YouTube deste filme, encontrei o David Lynch a falar exatamente sobre a tremenda importância do som, particularmente neste filme de Tati, e sobre o papel crucial desta espécie de banda sonora no humor de todo o filme.
Tínhamos acabado de ouvir o sapateado da menina da fábrica aos saltinhos no seu passinho curto, de ouvir a respiração das máquinas e de pôr o som mais alto para entender melhor as conversas. Mas as conversas não são para entender, percebemos, são só para ouvir, frases que se soltam, como quando passamos numa estação. Pela voz de de Lynch e Tati:
Descobri depois na prateleira O papagaio do Sr Hullot e todos gostam agora de tentar descobrir nele lugares do filme, personagens ou gags. As páginas que desdobram mostram o fim da piada, e também este livro é mudo de palavras, como o filme.
Divertidos, fizeram um paralelo entre o pai e O meu tio — com a gabardine, o chapéu e o ar distraído,
o B disse que um dia gostava de ter um cachimbo
e eu fiquei aliviada de dizerem que a mãe é que não se parecia muito a mãe do filme.
Embora aqui confesse que me revejo em parte naquela mulher irritante que limpa o pó ao carro enquanto este sai do portão,
quando com um pé já fora da porta, me estico oh qual mulher elástica a limpar narizes
— debaixo de protestos totalmente injustos.
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O papagaio do Sr Hullot
Kalandraka, 2012
David Merveille a partir de Jacques Tati
isbn 9789898205834
O meu tio, 1975
de Jacques Tati
Atalanta Filmes
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